28 de novembro de 2015

Quando o meu cérebro não me obedece

Hoje apeteceu-me escrever mais um artigo e de manhã estava cheia de ideias. Aliás, é nesses dias que eu consigo escrever alguma coisa que faça sentido. De manhã, depois de uma noite para esquecer, fui apanhar um pouco de ar fresco (muito fresco vá) e ainda fiz uma caminhada de 6 kms com a filha. Depois de almoço, liguei o computador e as ideias não chegavam. 

Detesto quando isso acontece. E quanto mais eu me quero focar, menos consigo. Deve ser o que mais me incomoda neste processo todo. Sempre achei que tivesse boa memória e sempre me consegui organizar muito bem, sem ajudas nenhumas. Mas bom, há que acompanhar as mudanças e nestes momentos, aprendi que de nada vale stressar. Pus o computador de lado e fechei os olhos, com o intuito de fazer um pouco de meditação. Mas, foi tão "profunda" que adormeci. Quando acordei, nem me lembrei do blog. Fui tratar do jantar porque a vida continua.

Depois de arrumar a cozinha, olhei para o computador e lembrei-me porque o tinha ligado. Comecei outra vez a ficar irritada porque não me lembrava do que me tinha proposto escrever. Mas depois lembrei-me, porque não escrever sobre isto mesmo? Não prometo que saia daqui nenhuma obra literária hoje, mas é o que há, e se me propus escrever, é isso mesmo que vou fazer!

O chamado Fibro-fog (nevoeiro mental ou cerebral) é o que me faz sentir mais limitada. Mas em vez de me irritar com isto ou de sentir pena de mim própria, decidi brincar e rir-me de mim própria (assim como assim, boa já não estou, né?) Já percebi que de nada serve insistir em me lembrar do que me esqueço. A minha teoria é, se o pensamento se perdeu pelo caminho, há-de encontrar o caminho de volta...ou não!

Pelo que andei a pesquisar, três dos principais sintomas da FM têm um impacto negativo na nossa memória:

  • Perturbações do sono - Muitos de nós temos um sono de fraca qualidade (sim, estou a ser simpática), e sem um descanso apropriado, o cérebro não consegue absorver memórias para as relembrar mais tarde. Uma noite bem dormida, permite que o hipocampo  e o neocórtex (estruturas do cérebro que convertem a memória de curto prazo em memória de longo prazo) continuem a desempenhar as suas normais funções.

  • Ansiedade - Depressão e ansiedade têm um papel preponderante na FM e têm um grande impacto na nossa memória. Um estado nervoso ou em constante preocupação, pode ser extremamente desgastante para o nosso cérebro e interfere com a formação e processamento das nossas memórias. Sabemos, também por experiência própria, que levar uma vida mais tranquila possível, reduzindo estes desgastes mentais, melhoram significativamente o desempenho destas estruturas cerebrais.

  • Dor - Algumas pesquisas também já indicam que a dor crónica tem um impacto significativo no desempenho cerebral. A dor crónica implica um maior desgaste de todas as estruturas funcionais e emocionais do nosso cérebro, diminuindo bastante a sua qualidade na formação de memórias.

Alguns estudos apontam que a FM tem o mesmo efeito na nossa memória como se envelhecesse 20 anos de um momento para o outro. E quanto mais tarefas queremos desempenhar ao mesmo tempo, mais este desgaste se acentua. Mas nem tudo está perdido, eu pelo menos recuso-me a deitar a toalha ao chão (até porque depois não me conseguiria dobrar para a apanhar!) Existem alguns truques aos quais podemos recorrer que podem melhorar um pouco a nossa capacidade de memória, ou, evitar que se degrade tão rapidamente. Pequenos truques podem aumentar um pouco a nossa confiança e auto-estima, logo, só pode ter um impacto positivo no nosso dia-a-dia.



ALGUMAS DICAS

Apesar da perda de memória poder ser um problema que possa ser alvo de outras causas e de outros estudos, acredita-se que a perda de memória provocada pelo Fibro-fog não tenha as mesmas repercussões. As memórias não estão perdidas, apenas estão arrumadas fora do sítio e com algumas técnicas, acredita-se que podemos melhorar o acesso a estas memórias "perdidas". E alguns dos exercícios não são assim tão difíceis de colocar em prática, por isso de nada vale reclamar já que não tem tempo ou que é difícil pôr em prática.

  • Tomar nota daquilo que é importante - Eu sempre tive boa memória e nunca precisei de apontar datas de consultas ou tarefas pendentes. Mas o que foi, foi e há que saber viver em função, para evitar fazer figuras tristes. Já tive que ligar para consultórios a "confirmar" as datas e horas de consultas porque tinha uma ideia do dia, mas não conseguia lembrar-me das horas. Também cheguei a apontar em sítios que depois "desapareciam", em cantos de jornais e revistas, por exemplo. Agora tenho um caderninho que anda comigo para todo o lado. Está sempre num local acessível de forma a que o possa levar para a sala, ou para o quarto, ou para a rua. Aponto tudo, desde consultas, encontros com amigas, tópicos de conversa que quero abordar. Isto funciona um bocado como as cábulas que fazíamos na escola (bem...que eu fazia, vá) ao escrever o meu cérebro "guarda" melhor a memória e acabo depois por me lembrar do que escrevi, sem precisar de ir verificar. O problema é quando me esqueço mesmo de apontar, mas isso agora não interessa nada!

  • Fazer meditação - "Ah e tal, não consigo fazer meditação!" Pois, eu também dizia isso, e pior, não acreditava sequer que essa "coisa" pudesse ter algum impacto na nossa qualidade de vida. Pois o facto é que TEM MESMO! Não é preciso começar logo a entrar num estado de Nirvana, mas se eu consigo, qualquer pessoa consegue. Existem muitos vídeos na net aos quais podemos recorrer e praticar. Com pequenos exercícios e com alguma prática, vamos conseguindo "limpar" energias e sentimentos tóxicos que muitas vezes bloqueiam as nossas memórias e o desempenho adequado do nosso cérebro e sistema nervoso central. Mais tarde abordarei mais em profundidade este tema e como a meditação nos pode ajudar. Colocarei também alguns links que mais sigo, se até lá não me esquecer! O que noto é que nos dias em que faço meditação (ultimamente tenho feito quase todos os dias) sinto menos cansaço mental e sinto-me mais ágil em termos de raciocínio e capacidade de resposta de pensamentos e decisões.

  • Puzzles, jogos de palavras e de memória ou de raciocínio rápido, sudoku - É sabido que este tipo de jogos mantém o cérebro activo de várias formas. Seja pela associação de números, seja pela associação de figuras semelhantes ou cores, o importante é manter o cérebro activo. E sim, até os jogos do Facebook (tipo Candy Crush) podem ajudar, pois obriga o nosso cérebro a prever jogadas seja em número ou de cor. 

  • Ler - Eu sou suspeita porque sempre adorei ler e espero nunca perder esse gosto. A leitura obriga o nosso cérebro a relembrar palavras que nem sempre usamos no nosso dia-a-dia. Obriga-o também (no caso de ficção) a focar-se no enredo da história que estamos a ler e muitas vezes até a prever as cenas seguintes. 

  • Ver filmes ou séries estrangeiras - Sim, o meu hobby também me ajuda a manter-me activa mentalmente. Existem alguns estudos que afirmam que manipular duas línguas em simultâneo, activa exponencialmente a nossa actividade mental. Um dos truques consiste em ver filmes em inglês ou francês (ou noutra língua que se domine bem) e em simultâneo ler as legendas, ao mesmo tempo que ouve o que se diz na língua original. Isso obriga o nosso cérebro a reagir em estruturas diferenciadas permitindo uma maior ginástica e resposta mental.

  • Foco numa coisa de cada vez - De nada adianta eu querer fazer várias coisas ao mesmo tempo, pois sei de antemão que não o vou conseguir. E para depois ficar frustrada, mais vale nem sequer ir por aí. Agora faço uma coisa de cada vez, pois permite-me focar com mais atenção no que estou a fazer e só depois de acabar esta tarefa, é que penso na seguinte. 
Depois existem outros truques que alteram a nossa rotina habitual, desligando o piloto automático, mas que a médio/longo prazo aumentam a nossa destreza mental:


  • Andar pela casa de trás para a frente 
  • Vestir-se de olhos fechados
  • Usar o relógio de pulso no braço oposto
  • Ver as horas num espelho
  • Trocar o rato do computador de lado
  • Escovar os dentes com as duas mãos
  • Alterar os percursos rotineiros (quando vai trabalhar, às compras, etc)
  • Tentar escrever com a outra mão
Em suma, obrigar o nosso cérebro a confrontar-se com novos hábitos e novas rotinas. 

A FM interfere em muitas áreas da nossa vida diária, mas não tem que ser incapacitante. A solução é encarar isto como mais um desafio, só que neste caso, é um desafio que está em constante mutação, mas que nunca acaba.

14 comentários:

  1. Adorei o texto e acho de extrema importância as dicas e desde já agradeço. A parte do ''nevoeiro mental'' também é a que mais me incapacita e ao mesmo tempo a que mais me assusta. As dores, mais, ou menos, ainda consigo suportar bem como os restantes sintomas que são tão diversos, mas quando ela ''atinge'' o meu cérebro, que é o que se passa neste momento, sinto o controle a fugir-me das mãos. Neste episódio menos bom que estou a passar, a meditação e o relaxamento têm ajudado bastante. Bem haja Cristina por esta partilha, beijinhos

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    1. Obrigada Berta :) Tento passar um pouco do que passo e do que sinto. Pode ser que possa ajudar outras pessoas a levar isto com menos amargura. Beijinhos e muita força :)

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  2. Uma vez mais cá estou para comentar. Tenho momentos em que o meu cérebro tem uma certa relutância em funcionar. Não sei se já vos aconteceu querer falar e entaramelar as palavras? Quando o cérebro recusa o seu normal funcionamento isto acontece. Como já escrevi anteriormente costumo canalizar as minhas dores, as alterações de humor escrevendo (a mãe já sugeriu editar um livro), ouvindo música, lendo através do smartphone ou computador. Tenho tantos livros que li e reli e actualmente não o posso fazer por causa do SS. Mas é sempre bom partilhar experiências e nosso a Cristina é excepcional. Também faço uma caminhada diária com o meu melhor amigo que trato como um filho, o meu patudinho chamado Charlie bem como aproveito todos os momentos que tenho com o meu netinho de um ano e meio e com ele volto a ser criança. Bjs Cristina❤

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  3. Uma vez mais cá estou para comentar. Tenho momentos em que o meu cérebro tem uma certa relutância em funcionar. Não sei se já vos aconteceu querer falar e entaramelar as palavras? Quando o cérebro recusa o seu normal funcionamento isto acontece. Como já escrevi anteriormente costumo canalizar as minhas dores, as alterações de humor escrevendo (a mãe já sugeriu editar um livro), ouvindo música, lendo através do smartphone ou computador. Tenho tantos livros que li e reli e actualmente não o posso fazer por causa do SS. Mas é sempre bom partilhar experiências e nosso a Cristina é excepcional. Também faço uma caminhada diária com o meu melhor amigo que trato como um filho, o meu patudinho chamado Charlie bem como aproveito todos os momentos que tenho com o meu netinho de um ano e meio e com ele volto a ser criança. Bjs Cristina❤

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    1. Obrigada Cacilda :) faz muito bem em ocupar-se com aquilo que a faz feliz, afinal de contas os bons momentos têm de ser aproveitados. Beijinhos e muita força :)

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  4. Anónimo5/12/15

    Eu claro que também tenho falhas de memória, e às vezes o meu cerebro fica tão confuso,que tenho de parar por um segundo e tentar perceber o que tinha para fazer,se me lembrar tenho de fazer logo de seguida,senao volto a esquecer,mas às vezes a falta de memória deixa me de rastos,porque me esqueci que o meu filho mais velho tinha ginástica, ou esquecer,a data de uma consulta importante para ele

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    1. É muito chato e deve ser o que mais me incomoda nisto tudo e que me faz sentir limitada. É muito complicado mas pronto, é o que há ;)

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    2. É muito chato e deve ser o que mais me incomoda nisto tudo e que me faz sentir limitada. É muito complicado mas pronto, é o que há ;)

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  5. Anónimo5/12/15

    Realmente a ideia de ter um caderninho sempre connosco,faz realmente sentido,o que fico é irritada,quando falo sobre a minha memória e todos me dizem...ah isso também me acontece muitas vezes....ok.
    Eu às vezes também esquecia,mas nao era com esta frequência. ...

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    1. Ando sempre com ele. Pior é quando estou a conversar c alguém e não quero tomar nota p não dar bandeira e depois me esqueço de apontar. O mais irritante é mesmo estar a falar e perder o fio à meada ;)

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    2. Anónimo5/12/15

      É verdade,eu tento disfarçar, mas eu fico a pensar
      xiii...esta ficou a pensar que estou louca..:)

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  6. Já me fizeste rir um pouco! De facto isto de ter que apanhar a toalha não está nada bem...hehe
    É mesmo complicado ter perdas (mesmo que momentâneas) de memória, eu já ando com uma agenda há alguns anos, vou trocando assim que acaba o ano, e nela eu escrevo tudo o que acho importante e que me vou lembrando, mesmo que não seja nesse dia (caso contrário já não me lembraria de muitas coisas).
    Recuso-me a ficar sem exercitar a memória, uma vez que o corpo às vezes é quase impossível...
    Um dia de cada vez, rindo muito de mim própria e das figuras que às vezes faço! Há que reaprender a viver...

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    1. Esta coisa é mesmo chata e o que mais me aborrece é a falta de previsibilidade. Quando penso que descobri uma causa-efeito, ela vem e troca-me as voltas.
      O lema "um dia de cada vez" cada dia me irrita mais, mais o facto é que tem que ser mesmo assim.
      Kiss

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    2. Esta coisa é mesmo chata e o que mais me aborrece é a falta de previsibilidade. Quando penso que descobri uma causa-efeito, ela vem e troca-me as voltas.
      O lema "um dia de cada vez" cada dia me irrita mais, mais o facto é que tem que ser mesmo assim.
      Kiss

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