6 de abril de 2017

Dor crónica - como ajudar alguém com dor crónica

Considera-se dor crónica quando a condição dura há 3 meses ou mais e continua depois de passado o processo traumático. A dor é a resposta neurológica do nosso organismo a qualquer lesão, mas na dor crónica os sinais da dor continuam activos e de forma anómala. Esta situação torna-se tremendamente stressante e provoca sentimentos de exaustão muitas vezes incompreendida. 

Se convive com alguém com dor crónica, talvez seja chegado o momento de ser pro-activo e fazer com o que o sofrimento dessa pessoa diminua um pouco. Não no sentido figurado claro, mas só o facto de entender a pessoa e o sofrimento em que se encontra, já provoca um grande alívio e torna os seus dias um pouco menos negros.

PROCURE INFORMAR-SE SOBRE DOR CRÓNICA

Cada pessoa sente a dor de forma diferente e reage também em conformidade. Pode ser útil falar sobre isso com a pessoa em questão. Quanto mais souber sobre o que a situação pela qual está a passar, mais facilmente poderá compreender o que sente e sobretudo as suas atitudes.

Saiba mais sobre a dor que a pessoa está a sentir:

  • Procure saber quando é que a dor começou (isto se não viver com a pessoa, claro!)
  • Na maior parte dos casos, os médicos não sabem a origem da dor o que torna o caso mais difícil de gerir. Procure ser tolerante.
  • Não obrigue um doente crónico a falar do assunto, quando não está para aí virado. Há dias em que falar sobre o assunto, ajuda. Mas há outros em que falar nisso, ainda torna a dor mais presente. Espere que seja a pessoa a abordar o assunto. Sim, é complicado, mas lembre-se que para sente a dor, ainda é mais complicado!
  • As dores crónicas mais sentidas são dores de cabeça, coluna, dores artríticas e sobretudo dores nevrálgicas, tais como ciatalgias, neuropatias periféricas ou outras. Fadiga crónica e depressão também fazem parte do rol. Procure saber o que a pessoa está a sentir e o que pode fazer para aliviar.
  • Entenda que na maior parte das vezes, um doente crónico não consegue descrever o que sente, nem a intensidade da dor. Para perceber melhor, imagine uma situação em que teve uma dor persistente e incomodativa. Agora imagine sentir essa dor o resto da sua vida....todos os dias! Chato, né?

Reconheça os sinais:
  • Entenda de uma vez por todas de que, quando um doente crónico diz que está bem, não significa que não está a sentir dor. Significa sim, que a dor é "tolerável". É frequente a pessoa camuflar a dor simplesmente porque quem está ao seu lado, não a entende.
  • Se perguntar a doente com dor crónica como estão as suas dores, o mais provável não dizer como se sente na realidade, em termos de intensidade da dor. Um doente crónico, com o tempo, desenvolve uma tolerância à dor surpreendente e só se queixa quando a dor já passou a barreira do suportável!
  • Quando nos constipamos ou apanhamos uma gripe, vamos mostrando alguns sinais de que o nosso corpo não está bem e que algo está para chegar. Assim acontece com um doente crónico. Todos nós temos formas de reagir diferentes, uns preferem "ficar no seu canto" e que ninguém os chateie (Euzinha!), outros sentem-se melhor se ficarem quietos e no escuro, outros preferem falar no assunto.
  • Procure os sinais...irritabilidade, inquietude, alterações bruscas de humor, mãos irrequietas, bocejar constantemente, noites mal dormidas, ranger de dentes, dificuldades de concentração, alterações de actividade a qualquer nível. Tudo isto são sinais de que algo está a sair do normal. Cabe a si perceber e conhecer quem está ao seu lado.
Atente aos sinais de depressão:

A dor crónica pode muitas vezes causar uma depressão secundária. E convenhamos, também não se sentiria deprimido se sentisse dores o dia todo, e todos os dias? A depressão pode ser resultado da dor crónica assim como a dor crónica pode vir da depressão. Complicado, sim! Mas é como é.
  • A depressão pode levar algumas pessoas a demonstrar menos emoções. Tente perceber o que se passa, e se não é uma forma de camuflar a dor que está a sentir.
  • A depressão também pode levar algumas pessoas a demonstrar mais emoções (estar mais chorosa, mais ansiosa, mais irritada, mais isolada...). Estas emoções e comportamentos podem ser voláteis pois dependem também muitas vezes do seu nível de dor.
  • A pior coisa que pode fazer a alguém com dor crónica, é virar-lhe as costas. Ainda lhe vai dar mais razões para se sentir deprimida, sozinha e logicamente com sentimentos negativos. Seja presente, o melhor que souber.
Respeite as limitações físicas

Numa doença visível, as limitações físicas são notórias como uma perna ou braço partido ou paralisia, ou outra... Mas numa situação de dor crónica, essas limitações não são tão  óbvias assim. Nem sempre é possível perceber a intensidade da sua dor e gerir o que está a sentir:

  • Um doente crónico não sabe de antemão como se vai sentir no dia seguinte. Cada dia é um dia e tem que ser gerido isoladamente. Pode ser muito confuso para quem está de fora, mas muito frustrante para quem sente.
  • Quando um doente consegue estar de pé 15 minutos sem se queixar, não significa que o consiga fazer por meia hora ou 1 hora. E se num dia consegue até ter um dia normal, não significa que o dia seguinte seja igual. Habitue-se a não criar rotinas.
  • Se um doente lhe diz que tem de se sentar, ou que tem de se deitar, ou que tem de ir para casa (se estiver na rua), acredite que não está a fazer fita. A dor crónica não se programa, aparece quando lhe apetece e sem avisar.
Seja honesto (a)

Reconheça o que não sabe. A dor é difícil de descrever a outra pessoa. É muito pessoal e faz parte da essência física e psíquica de cada um. Mesmo que a intenção seja boa, nunca assuma que sabe como o outro se sente. Sabe como se sente quando tem dor, mas não sabe o que o outro sente.

Pode pensar que um doente crónico procura o médico com frequência para chamar a atenção, ou que seja hipocondríaco, mas a verdade é que só o faz por desespero e pelo desgaste que toda esta situação lhe provoca.

O melhor apoio que pode dar a um doente crónico é:

- Ouvi-lo quando quer desabafar
- Respeitar os seus silêncios quando não quer dizer nada
- Respeitar os seus limites físicos e emocionais

Claro que nem toda a gente reage de forma igual, mas o melhor apoio que pode dar a alguém com dor crónica é estar e sobretudo "ser" presente.

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