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17 de abril de 2017

O prazer da solidão

Andava eu a vaguear pela internet e deparei-me com uma experiência levada a cabo nos anos 80. O jornalista italiano Tiziano Terzani, depois de muitos anos a fazer reportagens pela Asia, isolou-se durante um mês numa cabine. Durante um mês não falou com ninguém, à excepção do seu cão Baoli. Terzani passou o seu tempo a ler, a observar a natureza: ouvindo o vento a passar nas árvores, observando borboletas, a saborear o silêncio. Pela primeira vez na sua vida e durante muito muito tempo, sentia-se livre das ansiedades do dia a dia. Finalmente tinha tempo para ter tempo.

A reclusão de Terzani pode ser considerada até inusitada, uma vez que a humanidade sempre estigmatizou a solidão. A solidão ao longo dos tempos tem sido vista como inconveniente, como se fosse qualquer coisa a evitar a todo o custo, um castigo ou consequência de quem nunca soube viver em sociedade. E transpondo para o mundo actual, estar conectado ou disponível é quase obrigatório e o contrário nem sempre é bem visto. 

Mas saborear uns momentos de solidão nem sempre é mau. Felizmente e cada vez mais, as pessoas vão tendo noção da importância de se desligar um pouco do mundo que os rodeia. Quando tiramos esses momentos só para nós, somos confrontados com os nossos próprios medos, com as nossas escolhas, com aquilo que realmente somos e com aquilo que realmente importa. E se por um lado, nada é mais assustador, por outro lado traz uma paz de espírito que "os outros" não compreendem.

Desligue-se do mundo

Tire uns momentos para se desligar do mundo "lá fora". Desligue telemóvel, pc, televisão. Estar uns momentos indisponível para o mundo, permite que o seu cérebro descanse um pouco de todas as solicitações que tem sempre, que estamos ligados. Estar sozinho com os seus pensamentos, sem distracções, dá-lhe a oportunidade de arrumar as ideias e de pensar de forma mais clara e objectiva. É uma oportunidade para conectar corpo e mente. Eu tenho dias em que chego a casa e que ligo a tv para ter ruído de fundo, mas também tenho muitos momentos em que desligo tudo e não quero saber de nada. 


Aproveite para reflectir 

As responsabilidades do dia a dia, as rotinas no trabalho, na escola dos filhos, na vida familiar parecem nunca mais acabar. Estas actividades constantes não permitem que possamos tomar sempre as melhores decisões. Decidir qualquer coisa importante enquanto descasca as batatas para a sopa ou enquanto ajuda o filho nos trabalhos de casa, nem sempre sairá bem...digo eu! 

Tirar um tempo só para poder reflectir sobre determinada situação, permite-lhe maior concentração e encontrar uma solução muito mais clara e realista.

A solidão permite a reflexão. Gostar de estar sozinho também se aprende. E isso implica também aceitar-se como ser humano cheio de virtudes e defeitos. "Estou feliz com a vida que tenho?", "O que posso mudar para ser mais feliz?", "Quais são os meus objectivos a curto e longo prazo?" Parecem clichés, mas são perguntas muito profundas que, gostando ou não, precisam de ser colocadas de vez em quando para nos recentrarmos na vida e no mundo.

Descubra-se



Momentos de solidão dão-lhe a oportunidade de se reencontrar. Estar em grupo é muito agradável e saudável, mas muitas vezes também nos obriga a pensar em grupo. Pensamentos ou decisões que nunca tomaríamos se estivéssemos sozinhos e sem interferência de terceiros. Assim torna-se fácil gostar de estar sozinho quando percebe que lhe dá mais liberdade para fazer coisas que realmente gosta de fazer.

Passar tempo consigo próprio permite-lhe perceber melhor quem é e que prioridades tem na vida. Ao conhecer-se melhor, acabará por apreciar mais quem tem ao seu lado, ou pelo contrário, decidir quem quer ter ao seu lado. 

Aprecie a solidão dos seus pensamentos. Com o tempo, começará a apreciar estar sozinho e vai ganhar uma perspectiva diferente das suas próprias emoções, do que o faz feliz, do que o incomoda.

Reserve um tempo para si

Sim, ok, entre o levantar cedo e deitar tarde sobra pouco tempo. Mas há sempre hipótese de se levantar um pouco mais cedo, ou deitar-se depois de toda a gente e usufruir desse tempo só para si. Use esse tempo para fazer algo que lhe dá prazer, para tentar resolver um problema pendente ou para meditar. Acredite que faz maravilhas.

Use a hora de almoço só para si. Não é preciso fazê-lo todos os dias, mas de vez em quando, almoce sozinho, num jardim, ao sol, num parque... mas sozinho.

Se for preciso marque na sua agenda tempo só para si. Se marca a hora de reuniões, de consultas, de horas importantes, porque não marcar também horas para si? 

Seja mais egoísta

Dito assim, parece muito fútil e malicioso, mas quantas vezes não largou tudo para fazer algo por outra pessoa? Então qual é o mal, largar tudo por uns minutos e fazer algo por SI?

Deixe de se preocupar com a opinião dos outros. Estamos constantemente à espera da aprovação dos outros para o que fazemos ou dizemos ou decidimos. Claro que é sempre bom poder contar com a opinião e ajuda de terceiros. Mas também há momentos em que é perfeitamente capaz de agir por conta própria e isso traz autonomia e aumenta a sua auto-estima.

Aprenda a confiar nos seus instintos e a tomar decisões sem esperar a aprovação dos outros. Conhecer as suas emoções, fazer escolhas conscientes e assumir as suas consequências, não é sinal de egoísmo, é sinal de maturidade.

16 de abril de 2017

Psicomotricidade e Fibromialgia - uma aliança valiosa

Quando me foi diagnosticada a Fibromialgia, a minha reumatologista recomendou-me entre várias coisas, praticar todos os dias exercícios de alongamento, sempre que possível caminhar com os meus bastões (marcha nórdica) e recorrer à psicomotricidade. Na altura eu não sabia sequer o que era nem tinha ouvido falar. Mas acabou por revelar-se uma ajuda preciosa que me preparou para a vida...com Fibro, claro!

Fazíamos vários exercícios sobretudo a nível de relaxamento e de consciencialização do meu "eu". E ainda hoje, sempre que me sinto ir abaixo das canetas e do ânimo, relembro o que aprendi lá e ponho em prática.


Cada doente é tratado como indivíduo e as terapias são aplicadas individualmente consoante o seu estado físico no momento e sobretudo psíquico e emocional. 


O que é a psicomotricidade? 

Queria partilhar a minha experiência e divulgar o quanto isso me ajudou e continua a judar, mas não sabia como o explicar correctamente. Por essa razão, pedi ajuda à minha amiga Sandra Pinheiro (psicomotricista) que melhor que ninguém sabe explicar no que consiste e que gentilmente me fez este texto:

"Pode designar-se psicomotricidade como uma área híbrida, com diversas influências ao nível da medicina, nomeadamente da Psicologia, Psiquiatria, Psicanálise, Pedagogia, Neurologia e Educação Física.

É uma forma de exercer psicoterapia no paciente através da mediação corporal, onde o corpo, o espaço, a expressão motora, o gesto, o movimento e a tonicidade são cruciais. A comunicação entre o paciente e o técnico é substancial, sendo necessário o estabelecimento de uma relação afetivo-emocional entre ambos.

Caberá ao técnico efetuar uma primeira avaliação psicomotora, através de uma primeira consulta, de forma a verificar as necessidades do paciente, de forma a ajustar os exercícios e técnicas que possam ser recomendadas.

No caso específico da Fibromialgia a terapia indicada será a Terapia Psicomotora, que se refere essencialmente a todos os casos em que a dimensão afetiva e relacional está condicionada. Esta terapia engloba a reeducação e educação psicomotora mas de uma forma mais ampla. Deverá ser usada como melhoria no campo motor, pois é através dela que se transformarão os modos de perceção e as formas de apreensão das aferências emocionais. É importante que durante as sessões, o paciente tenha a vivência corporal (experiências vivenciadas) no que se refere à realidade e fantasia, com a respetiva carga afetiva, emocional, sensual, sexual e social que isso acarreta.

Os doentes com fibromialgia apresentam maior dificuldade na estruturação espácio-temporal, podem facilmente confundir símbolos ou mesmo esquecê-los, esquecer ruas ou localidades. As dificuldades na estruturação espácio-temporal podem ainda acarretar uma falta de padrão rítmico constante, o que ocasionará uma falta de coordenação na realização dos movimentos. É natural que coexista a dificuldade na organização de tempo e de atividades e/ou tarefas.

No esquema corporal existem dificuldades como lentidão e dificuldade de realização de movimentos harmoniosos simples, como: abotoar uma roupa, apertar uns atacadores, por vezes mesmo na locomoção. Confusão nas coordenadas de espaço como: em cima, em baixo, ao lado, linhas verticais e horizontais, bem como o sentido de orientação e pode ser facilmente confundido direita/esquerda.
A noção de espaço é ambivalente, pois, é ao mesmo tempo concreta e abstrata, finita e infinita. Ela envolve tanto o espaço do corpo, como o espaço que nos rodeia. A ideia do espaço, incluída nas nossas sensações, resulta das nossas experiências e aprendizagens.

No que se refere à tonicidade esta é considerada como o alicerce fundamental no desenvolvimento motor, sendo através do tónus que se estabelece o contacto com o mundo exterior. É através do tónus que a tonicidade garante as atitudes, posturas, mímicas, emoções essenciais à motricidade humana. O tónus é ainda essencial na preparação da musculatura para as múltiplas e variadas formas de atividades diárias.

A função tónica representa-se do ponto de vista fisiológico de duas formas: através do tónus de repouso, que equivale ao estado permanente do músculo que se conserva inclusive durante o sono; e o tónus de atitude, que é ordenado pelo jogo complexo de reflexos da atitude, sendo o resultado das sensações propriocetivas e dos estímulos provenientes do mundo exterior.

Há um modelo postural, um esquema, uma imagem do nosso corpo, independente das informações cutâneas e profundas que desempenha um papel importante, mesmo que não seja evidente na consciência que cada um tem de si mesmo. O modelo postural não é um dado estático, mas sustenta ativamente todos os gestos que nosso corpo realiza sobre si mesmo e sobre os objetos exteriores.

O equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos segmentos corporais. Quanto mais defeituoso é o movimento, mais energia consome e tal gasto energético poderia ser canalizado para outros trabalhos neuromusculares. Dessa luta constante, mesmo que inconsciente, contra o desequilíbrio resulta uma fadiga corporal, mental e espiritual, aumentando o nível de stress, ansiedade e angústia do paciente.

Ao longo do tempo vamos percebendo também que a praxia fina fica comprometida, sentimos falta de força nas mãos, falta de controlo dos movimentos dos dedos das mãos, dificuldade em escrever, quer no computador, quer à mão.

Cabe ao Psicomotricista auxiliar os pacientes da melhor forma, incluindo a família, de forma a melhorar a qualidade de vida do paciente, através de estratégias trabalhando todos os fatores psicomotores."

Para mim foi fundamental na minha gestão diária de dores e desconforto. Aprendi a respirar quando tinha mais dores, o que me aliviava logo a tensão. Aprendi a "desligar" o meu cérebro, quando ele insistia em manter-me acordada dia e noite. Mas aprendi sobretudo a ouvir-me, a conhecer-me e a respeitar os meus próprios limites.

11 de abril de 2017

O medo

Quando se recebe o diagnóstico de Fibromialgia, é natural sentir o medo a invadir-nos. Palavras como "incurável", "crónico", "dor crónica" são usadas tantas vezes que é perfeitamente natural que o medo se instale e que os dias que temos pela frente não sejam de todo vistos com ânimo leve. Mas como em tudo na vida, é preciso pegar o boi pelos cornos (acho que é assim que se diz!)

Os meus sintomas começaram em 1992 quando tive febre reumática. Depois do surto estar controlado, ficaram as dores. Quando me queixava aos médicos que me foram assistindo, atribuíam as dores e mal-estar ao tempo, à humidade, à genética, aos astros...não interessava. Interessava era que os exames estavam todos bem e "toma lá uns anti-inflamatórios e vai tomando em S.O.S."!

Entretanto fui mãe e como a miúda tinha resolvido que a sua missão no mundo seria chorar, dia e noite, o sono foi ficando para trás. Ao fim de 2 anos, lá acalmou mas o sono nunca mais voltou. E quando em queixava à médica, dizia-me que isso era tudo normal nas mães de primeira viagem, quando a miúda crescesse, tudo entraria nos eixos. Certo....e isso seria quando? 1 semana, 1 mês, 1 ano, 10?...quanto???

Foi preciso ter mudado de país, de médica e depois de uma epicondilite que não queria regredir, que a médica (a nova) me perguntou como era o meu sono, que sintomas tinha e do nada disse-me que eu tinha Fibromialgia! "Deves"...pensei! Ainda por cima, eu tinha a (pouca) noção de que a Fibro estaria associada a pessoas depressivas e eu não sou nada dada a isso. Aliás a médica até disse que só não avançou com o diagnóstico mais cedo precisamente por eu ser uma pessoa sempre bem disposta e animada.

Como eu não concordava com o diagnóstico (eu e as minhas manias), ela à minha frente foi à net e leu-me os sintomas, mas como não podia confirmar, mandou-me para reumatologia e neurologia. O certo é que ela continuou a falar mas eu fiquei presa em algumas palavras "incurável", "dores constantes", "crónico". E o desconforto instalou-se.

DAR OU NÃO VOZ AO MEDO


Mas por outro lado (e foi aqui que me agarrei para me "animar"), o diagnóstico, fosse ele qual fosse, veio dar um sentido às queixas que eu tinha. Como se enfim, tudo fizesse sentido, e isso sim, foi um alívio.


Cheguei a casa e fui pesquisar tudo o que encontrei, aderi a grupos de apoio, decidida a dar luta à "bicha". Sentia medo. Mas tal como com os cães, não se pode mostrar medo e eu não iria baixar os braços. 

Comecei logo mal, porque no início tomei as drogas recomendadas e foi um periodo horrível. Quando questionava nos grupos se era mesmo assim, as respostas eram sempre desanimadoras....que iria ser sempre assim e que ainda iria piorar, e que a vida a partir de agora já não fazia sentido e que tudo tinha acabado. COMO? Eu não me via nada assim, era o que mais faltava. De um dia para o outro deixei de tomar o anti-depressivo (que supostamente me devia relaxar e supostamente me devia tirar as dores mas que efectivamente me deixava literalmente a vegetar). Não foi uma boa ideia porque andei quase uma semana de ressaca e isto só com 2 ou 3 semanas de drogas. Quase desejei voltar a tomá-las, mas não...não ia dar esse gostinho à "bicha".

E decidi que iria fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para recuperar, ou pelo menos tentar levar a vida o mais leve possível. Não tinha nenhuma bola de cristal, mas estava decidida a dar luta.

Felizmente tive a sorte de ter bons terapeutas, sobretudo a minha terapeuta de psicomotricidade. Foi com ela que descobri a fazer relaxamento profundo, que descobri a meditação, que descobri alternativas. Com a fisioterapeuta descobri a aromaterapia e exercícios de relaxamento e de alongamentos. Com a reumatologista aprendi a fazer marcha nórdica. Por outro lado, com a médica assistente tinha receitas regulares de anti-depressivos e relaxantes musculares que eu deitava fora assim que saía do consultório, mas isso agora já não interessa nada!

Entretanto descobri a importância da relação alimentação/saúde. E desde então tenho tentado sempre melhorar, ajustando as coisas em função do que vou sentindo. Porque além da Fibro, também tenho uma doença auto-imune (Síndroma de Sjögren) e a coisa não é assim tão linear.

Mas acreditem que é possível ter uma vida normal com uma doença crónica e/ou auto-imune. Não se deixem abater por comentários derrotistas e sobretudo não deixem que ninguém vos diga que não podem fazer seja o que for. 

Mesmo com problemas crónicos, é possível ter vida e ter qualidade de vida, depende sempre da nossa atitude. Se decidirmos ter medo do desconhecido, e dar-lhe voz e importância, não saímos do sofá e entupimo-nos de drogas que nos deixam alienadas. É isso que se pretende desta vida? Deixar que os dias passem e não tiremos nenhum benefício de estarmos vivos? 

Atitude positiva é essencial. Claro que há sempre quem diga "ah e tal diz isso porque não tem uma dose muito intensa". Amigos, não há intensidades diferentes de Fibro, ou se tem, ou não! Depende da importância que lhe damos. Se tenho dores? Tenho...mas ficar todo o dia deitada porque tenho dores, não me alivia as dores. Quando tenho dores, é quando faço com maior concentração os meus exercícios de alongamento. Sim, também vão dizer "ah e tal, se tivesse muitas dores não se mexia!" Tá...e já experimentaram espreguiçar-se devagar? Só um cadinho? Pode doer mas só faz bem e a médio/longo prazo é a única solução. Porque garanto que ficar encarquilhada no sofá, não vai aliviar nada...mas isso já sou eu.

Sono. Sim também tenho noites mal dormidas. Mas ficar na cama a dar voltas e a lamentar a noite que não estou a dormir, já sei que não resulta. E também não resulta vir para as redes sociais dizer que tenho insónias, porque o sono continua a não aparecer. Ou então não sei fazê-lo como deve ser. Prefiro levantar-me, faço um chá, ligo a tv, se me apetecer, vou ler um livro e quando estou "aborrecida" volto para a cama e tento fazer alguns exercícios de relaxamento para adormecer. Resulta quase sempre, mas quando não resulta, não adianta descarregar no companheiro, nos filhos, porque além de não terem culpa nenhuma, não resolve nada. Esta noite pode ter sido má, pode ser que a próxima seja melhor...eu pelo menos acredito sempre que sim.

Cansaço, fadiga? Também tenho. Mas se estou cansada e estiver em casa, paro e descanso. Se não houver jantar, paciência. Quem estiver, que se desenrasque. Felizmente não me posso queixar de quem me rodeia porque também não dou hipótese. Mas de nada serve insistir em fazer as coisas quando a fadiga se instala porque (no meu caso) nunca dá bom resultado.

Não é porque estou sempre bem disposta que eu não tenho dores ou que não sinto as coisas. Simplesmente deixei de as valorizar e sempre que a vozinha da Fibro se quer fazer ouvir, eu viro-lhe as costas e reajo. Depende sempre de nós a forma como deixamos que a doença nos afecte. Mas ficar parada, a lamentar-me pelos cantos e entregar-me, não faz parte dos meus planos dos próximos 50 anos.

O medo é a pior coisa que nos pode acontecer se não lhe fizermos frente. Mas por outro lado, ainda bem que ele aparece porque só assim saimos da nossa concha, da nossa zona de conforto e arriscar e experimentar novas metodologias, novas terapias. 

Como diz aquela frase muito bonita da qual não conheço o autor "Se der medo, vai com medo mesmo!"

6 de abril de 2017

Dor crónica - como ajudar alguém com dor crónica

Considera-se dor crónica quando a condição dura há 3 meses ou mais e continua depois de passado o processo traumático. A dor é a resposta neurológica do nosso organismo a qualquer lesão, mas na dor crónica os sinais da dor continuam activos e de forma anómala. Esta situação torna-se tremendamente stressante e provoca sentimentos de exaustão muitas vezes incompreendida. 

Se convive com alguém com dor crónica, talvez seja chegado o momento de ser pro-activo e fazer com o que o sofrimento dessa pessoa diminua um pouco. Não no sentido figurado claro, mas só o facto de entender a pessoa e o sofrimento em que se encontra, já provoca um grande alívio e torna os seus dias um pouco menos negros.

PROCURE INFORMAR-SE SOBRE DOR CRÓNICA

Cada pessoa sente a dor de forma diferente e reage também em conformidade. Pode ser útil falar sobre isso com a pessoa em questão. Quanto mais souber sobre o que a situação pela qual está a passar, mais facilmente poderá compreender o que sente e sobretudo as suas atitudes.

Saiba mais sobre a dor que a pessoa está a sentir:

  • Procure saber quando é que a dor começou (isto se não viver com a pessoa, claro!)
  • Na maior parte dos casos, os médicos não sabem a origem da dor o que torna o caso mais difícil de gerir. Procure ser tolerante.
  • Não obrigue um doente crónico a falar do assunto, quando não está para aí virado. Há dias em que falar sobre o assunto, ajuda. Mas há outros em que falar nisso, ainda torna a dor mais presente. Espere que seja a pessoa a abordar o assunto. Sim, é complicado, mas lembre-se que para sente a dor, ainda é mais complicado!
  • As dores crónicas mais sentidas são dores de cabeça, coluna, dores artríticas e sobretudo dores nevrálgicas, tais como ciatalgias, neuropatias periféricas ou outras. Fadiga crónica e depressão também fazem parte do rol. Procure saber o que a pessoa está a sentir e o que pode fazer para aliviar.
  • Entenda que na maior parte das vezes, um doente crónico não consegue descrever o que sente, nem a intensidade da dor. Para perceber melhor, imagine uma situação em que teve uma dor persistente e incomodativa. Agora imagine sentir essa dor o resto da sua vida....todos os dias! Chato, né?

Reconheça os sinais:
  • Entenda de uma vez por todas de que, quando um doente crónico diz que está bem, não significa que não está a sentir dor. Significa sim, que a dor é "tolerável". É frequente a pessoa camuflar a dor simplesmente porque quem está ao seu lado, não a entende.
  • Se perguntar a doente com dor crónica como estão as suas dores, o mais provável não dizer como se sente na realidade, em termos de intensidade da dor. Um doente crónico, com o tempo, desenvolve uma tolerância à dor surpreendente e só se queixa quando a dor já passou a barreira do suportável!
  • Quando nos constipamos ou apanhamos uma gripe, vamos mostrando alguns sinais de que o nosso corpo não está bem e que algo está para chegar. Assim acontece com um doente crónico. Todos nós temos formas de reagir diferentes, uns preferem "ficar no seu canto" e que ninguém os chateie (Euzinha!), outros sentem-se melhor se ficarem quietos e no escuro, outros preferem falar no assunto.
  • Procure os sinais...irritabilidade, inquietude, alterações bruscas de humor, mãos irrequietas, bocejar constantemente, noites mal dormidas, ranger de dentes, dificuldades de concentração, alterações de actividade a qualquer nível. Tudo isto são sinais de que algo está a sair do normal. Cabe a si perceber e conhecer quem está ao seu lado.
Atente aos sinais de depressão:

A dor crónica pode muitas vezes causar uma depressão secundária. E convenhamos, também não se sentiria deprimido se sentisse dores o dia todo, e todos os dias? A depressão pode ser resultado da dor crónica assim como a dor crónica pode vir da depressão. Complicado, sim! Mas é como é.
  • A depressão pode levar algumas pessoas a demonstrar menos emoções. Tente perceber o que se passa, e se não é uma forma de camuflar a dor que está a sentir.
  • A depressão também pode levar algumas pessoas a demonstrar mais emoções (estar mais chorosa, mais ansiosa, mais irritada, mais isolada...). Estas emoções e comportamentos podem ser voláteis pois dependem também muitas vezes do seu nível de dor.
  • A pior coisa que pode fazer a alguém com dor crónica, é virar-lhe as costas. Ainda lhe vai dar mais razões para se sentir deprimida, sozinha e logicamente com sentimentos negativos. Seja presente, o melhor que souber.
Respeite as limitações físicas

Numa doença visível, as limitações físicas são notórias como uma perna ou braço partido ou paralisia, ou outra... Mas numa situação de dor crónica, essas limitações não são tão  óbvias assim. Nem sempre é possível perceber a intensidade da sua dor e gerir o que está a sentir:

  • Um doente crónico não sabe de antemão como se vai sentir no dia seguinte. Cada dia é um dia e tem que ser gerido isoladamente. Pode ser muito confuso para quem está de fora, mas muito frustrante para quem sente.
  • Quando um doente consegue estar de pé 15 minutos sem se queixar, não significa que o consiga fazer por meia hora ou 1 hora. E se num dia consegue até ter um dia normal, não significa que o dia seguinte seja igual. Habitue-se a não criar rotinas.
  • Se um doente lhe diz que tem de se sentar, ou que tem de se deitar, ou que tem de ir para casa (se estiver na rua), acredite que não está a fazer fita. A dor crónica não se programa, aparece quando lhe apetece e sem avisar.
Seja honesto (a)

Reconheça o que não sabe. A dor é difícil de descrever a outra pessoa. É muito pessoal e faz parte da essência física e psíquica de cada um. Mesmo que a intenção seja boa, nunca assuma que sabe como o outro se sente. Sabe como se sente quando tem dor, mas não sabe o que o outro sente.

Pode pensar que um doente crónico procura o médico com frequência para chamar a atenção, ou que seja hipocondríaco, mas a verdade é que só o faz por desespero e pelo desgaste que toda esta situação lhe provoca.

O melhor apoio que pode dar a um doente crónico é:

- Ouvi-lo quando quer desabafar
- Respeitar os seus silêncios quando não quer dizer nada
- Respeitar os seus limites físicos e emocionais

Claro que nem toda a gente reage de forma igual, mas o melhor apoio que pode dar a alguém com dor crónica é estar e sobretudo "ser" presente.

4 de abril de 2017

Recebi o diagnóstico de Fibromialgia...e agora?

Quando se recebe um diagnóstico de Fibromialgia, a sensação é de sentir o tapete fugir-nos debaixo dos pés. Apesar de, com toda a certeza, já ter um passado cheio de dores e incómodos, o impacto de receber um diagnóstico de doença crónica, deixa qualquer um atordoado.


No meu caso, foi um misto de emoções...Por um lado, senti alívio por finalmente poder dar um nome a tudo aquilo que eu sentia há anos e que era considerado reumático, ou mudança de tempo, ou da lua ou lá aquilo que vinha à cabeça do médico. Afinal todos os sintomas que tinha há mais de 20 anos, tinham uma razão de ser. Por outro lado, tinha noção de que era uma doença crónica, mas por conhecer alguns casos em que a Fibro aparecia num quadro de depressão e ansiedade, para mim a doença era mais frequente em doentes desse tipo...e eu não me considerava NADA assim. 

Mas cada um reage à sua maneira. Pessoalmente, nunca fui de me deixar ir abaixo (ok, não vou dizer que tenha aceite isto de ânimo leve, mas isso agora não interessa nada!), mas entendo que para outras pessoas, seja mesmo muito difícil de aceitar. Não pretendo julgar ninguém, nem dar ensinamentos (tomara eu saber para mim), mas talvez possa ajudar algumas pessoas a reagir um pouco melhor.

Soa a cliché, mas ter um diagnóstico de doença crónica, não é de todo o fim da linha e a forma como reagimos no imediato, condiciona toda a nossa vivência perante o convívio com esta nova amiga para a vida.

Cometi alguns erros, como toda a gente, e a frase "se eu soubesse o que sei hoje", nunca fez tanto sentido.

NÃO ACEITE O DIAGNÓSTICO DE ÂNIMO LEVE

Mais uma vez, cada caso é um caso. Não há nenhum exame de diagnóstico específico para se concluir que é Fibro. O diagnóstico faz-se por exclusão de partes. É preciso fazer uma bateria de exames, e excluir tudo o que há para excluir para se concluir que possa ser Fibromialgia. 

Depois, e porque tem havido uma sensibilização cada vez maior (apesar de muita relutância) para o reconhecimento da doença, pode acontecer o seu médico concluir de forma demasiado airosa que "ah e tal! É Fibromialgia!"Existem muitas doenças que têm sintomas muito similares à Fibro e é fácil cair no facilitismo. Por isso, assegure-se de que o seu médico excluiu todas as hipóteses possíveis e não optou pelo caminho mais fácil...para ele.

ENCONTRE UM BOM MÉDICO

A grande maioria das pessoas que finalmente conseguiram ter um diagnóstico de Fibro, passaram por um caminho tortuoso. Felizmente não me posso queixar, mas é frequente ouvir-se coisas do tipo "isso é da sua cabeça", ou "isso não existe". Se costuma ouvir isso do seu médico ou de qualquer técnico de saúde, mude! Ninguém é obrigado a ser maltratado quando já não se sente bem. Queremos que nos oiçam e sobretudo que nos  entendam.

Em consultas que muitas vezes não passam dos 15 minutos (tempo suficiente para o paciente se queixar e do médico prescrever mais um medicamento), não é possivel haver qualquer tipo de entendimento mais profundo sobre a situação do paciente. É preciso um entendimento mais vasto, e perceber a doença num contexto mais global e holístico. E para isso, infelizmente muitos médicos não estão preparados.

Nem sempre é fácil mudar de médico, mas ficar agarrado a um que nos maltrata, ainda me parece mais complicado. Não é da sua cabeça, não é nada inventado. Os seus sintomas são reais e não há nada como sentir que temos alguém à nossa frente que está ali para nos ajudar a levar a situação o melhor possível. 

FAÇA AS SUAS PRÓPRIAS PESQUISAS

Sabemos bem que a maior parte dos médicos não tem tempo para se actualizar, outros também porque não lhes interessa, vá! Por isso, não coloque a sua vida totalmente nas mãos deles, e seja pro-activo. 

Pesquise por iniciativa própria. Existem muita informação disponível sobre Fibromialgia. Umas mais fidedignas que outras, mas o importante é que se sinta personagem principal da sua vida. Procure entender a razão dos seus sintomas. Porque sou cusca, ajudou-me muito perceber alguns sintomas que eu tinha e que aparentemente não faziam sentido. 

Um sintoma que me fazia muita confusão, era a sensação de ter um cabelo preso entre a pele e a roupa...e não haver cabelo nenhum! Hoje é piada interna aqui em casa, quando peço à filha para ver se tenho um cabelo algures e ela retira um de verdade e fazemos as duas uma festa! Dito assim parece caricato, mas um dia tomei 3 duches para tirar o "cabelo imaginário" e não passou...

Isto para dizer que é importante perceber o que se passa connosco e não deixar tudo para perguntar ao médico. Muitas vezes (então se for de clínica geral, é chapa 3), nem eles sabem explicar.

NÃO EXISTE A PÍLULA MÁGICA

De todas as pesquisas que tenho feito e de todas as pessoas com quem tenho falado, concluí rapidamente que, para levar uma vida minimamente normal, era preciso muito mais do que esperar que os medicamentos fizessem efeito. É preciso ser-se reactivo e perceber que, na maior parte das vezes, os medicamentos podem eventualmente ajudar mas com o tempo, deixam de fazer efeito e cada vez mais, temos de tomar doses mais altas e medicamentos mais fortes.

Não digo para não recorrer à medicação, mas que não se sintam dependentes dela. Vejam outras alternativas. Eu depois do diagnóstico, também tomei a medicação da praxe (Lyrica, Cymbalta, Zoldiar...) e destes só mantive o último porque em mim, era o único que me dava algum alívio. Os outros 2 deixam-me num estado de torpor tão grande e provocavam-me tantos sintomas secundários, que eu não estava a conseguir lidar com as dores e restantes sintomas da Fibro, E AINDA os sintomas dos medicamentos. 

Agora dá-me para rir, mas eu andava de óculos escuros dentro de casa e de tampões nos ouvidos pela sensibilidade provocada pelas drogas.Isto para não falar também do meu estado de zombie permanente. Na altura eu via "Walking Dead" e sentia-me parte do elenco...excepto na vontade de trincar, vá!

Felizmente tive bons profissionais, que me recomendaram terapias alternativas tais como aromaterapia (ver aqui) e terapias complementares, como a psicomotricidade. Também me recomendaram marcha nórdica (ver aqui) e aos poucos consegui levar o barco para a frente.

Procure também perceber de que forma a sua alimentação pode influenciar o seu estado de saúde. Eu só me dediquei a isso 1 ano depois do diagnóstico e foi um ano que perdi, mas disso também já falei (ver aqui). Também pode recorrer a massagens, hidroginástica, yoga, dança...

Repito, cada caso é um caso, mas não custa nada ver que podem existir alternativas que se adaptam a si e que podem fazer a diferença. 

CONTACTE PESSOAS COM A MESMA DOENÇA

Para mim, no início foi muito importante fazer parte de alguns grupos nas redes sociais. Perceber que não estava sozinha, perceber que afinal aqueles sintomas mais estranhos também eram sentidos por outras pessoas. E é muito importante para nos sentirmos compreendidos e no início, quando nos sentimos meio perdidos em exames e medicamentos e médicos, pode fazer a diferença.

Depois depende de pessoa para pessoa. Eu porque não tenho espírito derrotista, rapidamente comecei a cansar-me de ver sempre as mesmas queixas, das mesmas pessoas e que nada faziam para melhorar a sua qualidade de vida. Encontrei muitas pessoas com o mesmo espírito que eu, e com as quais ainda hoje me relaciono. Mas é muito fácil cair numa espiral de "coitadinho" e estar inserido num ambiente negativo e carregado de pessimismo e  amargura.

Mas este contacto com pessoas também com Fibro pode revelar-se uma pescadinha de rabo na boca. É preciso algum cuidado para não se deixar levar por todo esse tipo de discurso e criar o seu próprio caminho. É muito frequente, quando se fala num diagnóstico recente, que sejamos batalhados com mensagens pesadas e que nos levam a prever um futuro carregado de dores, drogas e incapacidade total.

Nada disso é verdade. Há vida além do diagnóstico, há vida além da Fibro, é preciso é que cada um encontre o seu caminho de forma a que "ela" não pese tanto.

Não pretendo dar lições a ninguém, é apenas a minha forma de ver as coisas AGORA e que eu gostava que alguém me tivesse dito quando fui diagnosticada. Sim, "ela" não nos larga, sim, "ela" faz questão de se manifestar mas não temos que lhe dar voz. Como os maus momentos não precisam de ser lembrados, pois aparecem mesmo sem serem convidados, tenho o hábito de valorizar e de ma agarrar aos momentos bons....por mais insignificantes que sejam.

"Às vezes oiço passar o vento, e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter vivido"- Fernando Pessoa

31 de março de 2017

Nós...e os outros...

"Ninguém me compreende!"

Quantas vezes não ouvimos alguém dizer isto? E quantas vezes não pensámos o mesmo?

Porque é que os outros não me ouvem? Porque é que não valorizam o que eu digo? Porque é que eu não consigo fazer-me entender?

Os outros...os outros...

Mas, será que a opinião dos outros é assim tão importante para a nossa existência? Será que só com o reconhecimento dos outros, é que somos realmente gente? Claro que, vivendo em sociedade, é importante que nos sintamos inseridos numa comunidade que fale a mesma linguagem que nós, mas se gastamos tanta energia em nos fazermos ouvir/entender, talvez seja altura de mudar a forma de pensar. Será que o problema é mesmo dos outros?


Porque não ver o filme ao contrário? Nós é que somos o actor principal da nossa história. Em vez de nos preocuparmos tanto em sermos aceites pelos outros, devíamos primeiro ser aceites por nós próprios. Será que eu ME aceito? Será que EU entendo o que me está a acontecer?


A nossa percepção dos outros, não tem nada a ver com eles, mas sim connosco. Esse é o caminho para o auto-conhecimento que muitas vezes tentamos evitar. A imagem que os outros têm de nós, é baseada no reflexo daquilo que pensamos sobre nós.

Quando estamos presos a uma ideia sobre como as coisas, ou pessoas, deveriam ser, ou quando tentamos forçar alguém a comportar-se de determinada forma, criamos uma resistência ao momento actual, ao agora.

Só quando nos começamos a aceitar, é que a nossa relação com os outros muda. Sermos honestos para com o  nosso corpo, para com a nossa essência, torna-nos mais lúcidos e acabamos por nos tornarmos mais calmos, confiantes e capazes de aceitar melhor o que nos rodeia. À medida que desenvolvermos essa capacidade em nós, começamos a reconhecer esses mesmos sentimentos nos outros.

Nós curamos a nossa relação com os outros, ao cuidarmos da relação que temos com o nosso "EU".

"Tudo o que nos irrita nos outros, pode nos levar a uma melhor compreensão de nós mesmos!" 
- Carl Jung -

28 de março de 2017

Símbolos da Fibromialgia

Todos sabemos que o símbolo que representa a Fibromialgia é a borboleta roxa. Mas sabe porquê?

BORBOLETA


Não é por acaso que a borboleta foi escolhida para representar uma doença tão peculiar, delicada e no entanto, tão intensa. E a vida da borboleta representa bem todos os estádios pelo qual passam todos os portadores da doença. Primeiro a borboleta põe os ovos, que se transformam em lagartas. À medida que as lagartas aumentam de tamanho, as suas peles esticam para acomodar todo o seu crescimento. Depois a lagarta  transforma-se num saco (pupa) e lá dentro cresce a um ritmo vertiginoso e recolhida do mundo. A metamorfose que no fim ocorre, dá origem a uma linda borboleta, pronta para iniciar o seu ciclo de vida.


Por essa razão, a borboleta é a representante ideal da consciência da Fibromialgia. Delicada e suave como a respiração quase sem peso, representa na perfeição o impacto do toque por mais leve que seja, num paciente com Fibromialgia. Sendo a Fibromialgia caracterizada também por alterações sensoriais, ao nível do som, do cheiro, do paladar, percebe-se cada vez melhor a delicadeza da borboleta para nos representar.

Mas quero acreditar também, que tal como a borboleta se transformou, também nós podemos nos transformar num ser melhor. A doença, não é bonita nem fácil de se aceitar, mas como digo sempre, não é o fim da linha. Tem de ser entendida sim, como o início de uma nova forma de viver, mais consciente e que valoriza mais aquilo que realmente importa...NÓS! É tempo de aproveitar e vivenciar todos os momentos, por muito poucos que sejam (porque eles existem se olharmos para eles), e aproveitar o que a vida tem de bom.

PORQUÊ ROXO?

Em psicologia, o roxo representa o equilíbrio da estimulação do vermelho e da calma do azul. Transmite a sensação de tristeza e introspecção. Estimula o contacto com o lado espiritual, proporcionando a purificação do corpo e da mente, e a libertação de medos e outras inquietações. 

É a cor da transformação, do respeito, da dignidade, da devoção, da piedade, da sinceridade, da espiritualidade e da transformação.

O ambiente roxo é misterioso e místico, sendo a cor apropriada para um local de meditação pois também representa a individualidade e personalidade.

É também a cor do Chakra da Coroa, que liga a cabeça, o cérebro e o sistema nervoso, representativa do pensamento puro. Esta cor também é representativa de outras doenças, tais como  Lúpus, Alzheimer, Cancro do Pâncreas, Doença de Crohn, entre outras...

Por essa razão também, há quem represente a Fibromialgia como uma fita roxa e não a borboleta, precisamente para se destacar das restantes patologias. Apesar de algumas associações representativas de doentes fibromiálgicos, terem adoptado uma cor mais avermelhada para representar a doença, a verdade é que a imagem da borboleta roxa, continua a prevalecer.



25 de março de 2017

Homem também sofre com Fibromialgia


É comum pensar-se que a Fibromialgia é uma condição física que afecta única e exclusivamente mulheres. Na verdade, também atinge os homens e com igual intensidade. E se para as mulheres já é complicado chegar a um diagnóstico, para os homens ainda é mais complicado. Isto porque a classe médica está de tal forma habituada a rotular esta doença "tipicamente feminina", que na maior parte dos casos nem associa os sintomas.


Assim, se é homem, como saber se tem Fibromialgia?

SINTOMAS DE FIBROMIALGIA NO HOMEM

Estima-se que 80 a 90 % dos casos de Fibromialgia, sejam diagnosticados em mulheres. O que significa que ainda existe uma grande percentagem de homens que sofrem com a doença. Os sintomas mais comuns patentes nos homens são:


  • Dores musculares - existem 18 pontos dolorosos associados à Fibromialgia. Normalmente, estes pontos situam-se perto de articulações e patentes em ambos os lados do corpo. Este costuma ser o primeiro critério para o diagnóstico.
  • Fibro-fog ou nevoeiro mental - outra das característica da doença revela-se a nível cerebral, quer seja por esquecimento de coisas básicas ou incapacidade de terminar um raciocínio. Acontece frequentemente, estar a conversar e esquecer no momento o que está a dizer ou a pensar.
  • Fadiga extrema - é outra das queixas mais comuns de quem sofre de Fibromialgia. Não é um cansaço normal que acontece ao fim de um dia exaustivo, por exemplo. Mas sim um cansaço extremo, sem razão aparente, independentemente de quanto tempo dormiu. Entra-se num círculo vicioso de cansaço extremo e incapacidade de dormir uma noite repousada.
  • Síndroma do intestino irritável - muitos portadores de Fibromialgia manifestam perturbações no funcionamento do intestino, alternando entre estados de obstipação e de diarreias.
Como se pode verificar, os sintomas mais presentes nos homens, são os mesmos que nas mulheres. O que muda é a gestão destes sintomas. Alguns homens mencionam que as dores não são tão constantes como nas mulheres nem tão intensas, o que leva também a que muitos casos não sejam sequer diagnosticados.

COMO GERIR A DOENÇA


Tal como na mulher, a doença é difícil de ser diagnosticada, sobretudo quando os técnicos de saúde não estão sensibilizados para isso. Por ser uma doença mais presente no sexo feminino, os técnicos de saúde nem sempre chegam ao diagnóstico correcto. E por questões sociais, o homem tem tendência a queixar-se menos e tem mais dificuldade em assumir que precisa de ajuda.

Se já é difícil para a mulher lutar contra os estigmas sociais provocados pela doença, para o homem ainda se torna mais difícil. Sobretudo porque fomos criados a pensar que o homem é o pilar da família, o ganha-pão e cuidador e torna-se muito difícil de assumir que se sente fragilizado. É frequente ouvir queixas de homens que se sentem um fracasso como homens, maridos ou pais e que se sentem uns fracos por terem uma doença de mulheres. Estar doente não é sinónimo de fraqueza!

O apoio da família é primordial, o que nem sempre é fácil e natural. É importante fazer-se ouvir e que todos entendam pelo que está a passar. O pior que pode fazer, é isolar-se.

Existem também grupos de apoio organizados por e para doentes com Fibromialgia, onde todos têm pontos em comum, mesmo que estes grupos sejam maioritariamente compostos por mulheres.

Fontes: https://www.verywell.com/fibromyalgia-in-men-716130

http://www.fibromyalgiatreating.com/fibromyalgia-symptoms-in-men/?utm_source=facebook&utm_medium=social&utm_campaign=men-fibro

16 de março de 2017

Gosto de mim!

Numa sociedade em que as exigências e pressões são cada vez maiores, seja a nível pessoal, familiar, profissional ou social, é natural que deixemos muita coisa para trás sem pensar muito nas consequências. E pelo caminho, é frequente perdermos aquilo que temos de mais importante: a nossa essência, a nossa auto-estima.

Auto-estima é a opinião e o sentimento que cada pessoa tem de si mesma. É ser capaz de respeitar, confiar e gostar de si. É muito fácil prendermos a nossa atenção nos filhos, no trabalho, nos amigos, mas de que serve estarmos presentes para os outros, se não investirmos primeiro em nós?

A auto-estima forma-se ao longo da infância, com base na educação e no tratamento recebido pela família, amigos, professores. É deveras importante o ambiente, o contexto em que a criança cresce, pois este meio contribui positiva ou negativamente a confiança da criança em si mesma. E pela vida fora, são tantos os desafios impostos, que mesmo que a criança tenha sido educada a amar-se e valorizar-se, se perca pelo caminho e comece a deturpar a ideia que tem de si própria.

Se já não é fácil para uma pessoa saudável e sem limitações não perder o seu equilíbrio interior, mais difícil se torna quando se padece de uma doença crónica. É muito fácil cair numa espiral de negativismo e de vitimização. Além de tudo o que é preciso gerir no quotidiano, ainda é preciso lutar contra o estigma social a que somos sujeitos. Quantos já não ouvimos comentários negativos e depreciativos relativos à Fibromialgia e à forma como ela se reflecte em nós, e somos rotuladas de preguiçosas, fiteiras, vítimas? E com o tempo, é fácil começarmos a acreditar naquilo que tantas vezes ouvimos. Uma mentira muitas vezes dita, torna-se verdade...só que não!

Ninguém tem o direito de rebaixar seja quem for, ainda mais quando se sofre de um problema crónico, onde o sofrimento físico já está tão presente. Muitas vezes não nos apercebemos, mas a energia que captamos à nossa volta, não deixa de ser o reflexo da mesma energia que emanamos. Se tivermos pensamentos positivos, atraímos atitudes positivas. E o contrário também é verdade. Então que tal começar pelo mais importante? Começar por dentro, começar por SI!

ANULE A VOZ CRÍTICA

"Eu não consigo fazer isto." "Não sou suficientemente boa." "Ninguém me entende." "Ninguém gosta de mim." Sempre que tiver pensamentos deste tipo, anule-os. Não é fácil, sobretudo quando sentimos, ou pior, ouvimos isto uma vida inteira, mas quando se quer muito uma coisa, consegue-se. Não é fácil quando noutros tempos conseguíamos fazer 3 ou 4 coisas ao mesmo tempo e agora precisamos de ajuda para as necessidades mais básicas. E daí? alguém escolhe estar doente? Assim, o primeiro passo consiste em afastar tudo aquilo que é negativo, venha de quem vier, certo?

ASSUMA-SE

Aquilo que os outros pensam de nós, é aquilo que permitimos que pensem. Se se considera uma vítima por estar doente, os outros vão tratá-la em conformidade. Logo, assuma-se. Assuma os seus pensamentos, assuma as suas decisões e assuma as suas atitudes. Ok, há dias em que até estamos bem dispostas e parece que não temos nada e depois temos outros em que até os cabelos doem. Mas assuma esse estado de espírito. Não se trata de ignorar quando não estamos bem, mas sim de o reconhecer e assumir esse momento. Se os outros entendem ou não, não tem de ser problema nosso, mas sim deles. Aos poucos vai conseguindo ganhar mais auto-confiança e a opinião de terceiros passará a ser relativa.

TOME APONTAMENTOS

Uma das muitas dicas que a minha terapeuta de psicomotricidade me sugeriu foi fazer apontamentos de todos os momentos bons que tinha durante o dia. Eu na altura já tinha lido que era importante apontar os níveis de dor, medicação e tudituditudo, mas realmente era tudo focado nos pontos negativos. Ela sugeriu fazer ao contrário. Mesmo que fossem só 5 minutos sem dor ou de uma actividade que me tivesse dado prazer, era para anotar. Pense naquilo que tem de bom, a sua paciência, os seus dotes culinários, a sua capacidade de adaptação e aponte. É importante estimular e valorizar as coisas boas. Com o tempo vai aperceber-se que tem muito com que se orgulhar.

EXERCITE-SE

Eu não sou bom exemplo pois digo muitas vezes que nunca correrei o risco de me viciar no exercício físico, por isso, não temam por mim. Mas é muito importante manter-se activa e flexível. Não é preciso correr maratonas, mas existem muitas actividades de baixo impacto que podem beneficiar muito o nosso bem-estar. Começar com alongamentos é essencial pois manter a flexibilidade afasta logo à partida muitos problemas e lesões. Sem contar com a parte emocional, pois ninguém gosta de se levantar dum sofá com vontade der puxada por um guindaste. A partir daqui tem um manancial de actividades que pode praticar. E se não gosta ou não quer fazer nada sozinha, porque não inscrever-se numa actividade em comunidade?

ESTABELEÇA METAS

No seu caderninho de apontamentos (o meu andava sempre comigo), anote pequenas metas, mas metas reais e exequíveis. Seja na limpeza da casa, seja em culinária, seja frequentar um curso, seja ler um livro, visitar um museu. Tanta coisa que pode fazer, mas imponha metas...e cumpra-as!

PERCA TEMPO AO ESPELHO

Sim, claro, se me disserem para fazer isso assim que acordo, sou a primeira a concordar que temo pela minha vista. Mas depois de se arranjar e de se sentir "viva", olhe-se ao espelho e foque-se naquilo que tem de bonito e que é agradável à sua vista. Não é altura de olhar para a celulite ou para a pele flácida, é o momento para olhar para si e gostar do que vê. Tem rugas? É bom sinal, pois significa que viveu para as ter. Mas foque-se sobretudo naquilo que lhe agrada. Todos temos algo do que gostamos em nós, mas com o tempo acabamos por anular essa sensação. Foque-se na sua expressão, faça poses em frente ao espelho ou caretas e brinque consigo própria. (Já perceberam como passo meu tempo, certo?) Foque-se em SI e ADMIRE-SE!



Muito mais haveria para dizer, mas fica para mais tarde porque a minha hora de me mirar e admirar ao espelho chegou. E vocês, já SE viram hoje?

12 de março de 2017

Atitude Positiva!

Atitude define-se como uma maneira de se comportar, agir ou reagir, motivada por uma disposição interna ou por uma determinada circunstância. Logo, quando adoptamos uma atitude mental positiva, as nossas decisões têm um propósito optimista e esperamos sempre pelo melhor. O optimista prefere ver o copo meio cheio, ao invés de lamentar o copo meio vazio.

 CRIAR UMA ATITUDE POSITIVA

Uns dirão que não têm razões para ter uma atitude ou postura positiva perante a vida. E neste contexto de Fibromialgia, vejo muitas vezes que se opta pelo caminho mais fácil, o da entrega e do derrotismo pessoal. Ninguém escolhe estar doente mas "estar doente" não é nenhuma forma de estar na vida. Quantas vezes não oiço ou leio que alguém poderia fazer isto ou aquilo "se não estivesse doente", como se a doença as definisse como ser humano. Podemos ter dias menos bons (não vale a pena dourar a pílula), mas não "somos a doença" e há muito mais além do diagnóstico ou da situação clínica em si. A Fibro não tem que ser uma extensão da nossa personalidade. Está presente sim, uns dias mais do que outros, mas não tem que tomar as rédeas das nossas vidas.

E não há diferentes graus de intensidade da doença (como já vi e ouvi muitas vezes). A dor ou desconforto que se sente, muitas vezes depende do nosso estado de espírito e de quanto queremos valorizar esses momentos. Ter um sorriso ou estar bem disposto nem sempre é sinónimo de estar sem dores, ou de não ter nenhum tipo de problemas. Mas sim, de não querer que esses momentos negativos marquem um dia, um momento e muito menos uma vida.

Ter uma atitude mental positiva é uma decisão que se expressa através dos nossos comportamentos, podendo estes ser aprendidos. Não se trata de ignorar a realidade dos factos, ou de que o que estamos a vivenciar não é assim tão mau quanto isso. Não se trata tão-pouco de transformar algo mau em algo bom. Não! Ao longo duma vida, nem tudo dá certo, nem tudo corre como planeado. Mas tudo isso faz parte da nossa aprendizagem como ser humano. O importante é tomarmos consciência da situação em si e decidirmos que rumo queremos que a nossa vida tome.

E sim, atitude positiva pode e deve ser trabalhada, desde que queiramos investir nela. 

TOME CONSCIÊNCIA DE SI

Quantas vezes já nos questionámos sobre aquilo que é suposto fazermos, ou pior, aquilo que a sociedade espera que façamos? A sociedade em geral teima em formatar-nos e impõe-nos um papel que temos que cumprir e obriga-nos a agir em conformidade. Uns tiram cursos porque os pais assim o quiseram e não os quiseram desiludir, outros mantêm relações falhadas porque têm medo do que os outros poderão dizer se decidirem libertar-se e amedrontam-se perante o desconhecido, outros ficam aprisionados a um trabalho que não os satisfaz, apenas porque foi o que encontraram e têm medo de arriscar, outros ainda assumem a doença como parte de si próprios porque têm receio do que podem encontrar se decidirem fazer mais por si e/ou seu bem-estar.

E ao fim de anos vividos nestas imposições, o que sobra? Não seremos muito mais do que isto? Não seremos merecedores de podermos escolher o nosso próprio caminho? De que valerá estarmos vivos se não for em plena consciência das nossas decisões e das nossas atitudes? Só depende de nós. Podemos optar por valorizar aquilo que não controlamos ou podemos optar por centrar a nossa atenção naquilo que podemos fazer e podemos conseguir. A maneira que escolhemos ver o mundo, cria o mundo que vemos.

Valorize os pequenos momentos...um dia de sol no meio de dias de chuva, um pôr do sol, uma flor no meio de ervas daninhas, uma gargalhada dum filho, uma palavra atenciosa de quem nos quer bem, um abraço...Há tanta coisa para valorizar. Há tanta coisa para agradecer. Se o dia não estiver a ser bom, lembre-se que podia sempre ter sido pior e sinta-se feliz por isso. Há sempre escolha quanto ao rumo dos nossos pensamentos. Quando surgirem pensamentos negativos, temos a escolha se os queremos manter ou se queremos afastá-los e substituí-los por outros mais felizes. Mas sobretudo, tome consciência e valor das suas atitudes.

Implemente pequenas mudanças, tais como:

  • Afastar-se pessoas negativas. Pessoas positivas criam energias e atitudes positivas.
  • Usar uma linguagem positiva. Em vez do "eu devia" ou "eu gostaria" use o "eu escolho" ou "eu quero".
  • Afastar sentimentos ou emoções negativas. Não resolvem nenhum tipo de problema que esteja a atravessar, e ainda o coerta de qualquer pensamento positivo que possa vir a ter.
  • Criar as suas próprias expectativas realistas e tomar acções da sua própria vida.
  • Começar a acreditar naquilo que realmente quer e naquilo que o pode fazer ainda mais feliz.
  • Investir em si, seja através de um curso, seminários, livros, uma actividade desportiva e/ou lúdica, ou que for, desde que seja aquilo que realmente quer fazer.
  • Assumir a responsabilidade e o rumo da sua própria vida, mas sobretudo naquilo que pode controlar: pensamentos, acções, comportamentos, estados emocionais...Assuma-se!
Decidir ser uma pessoa com atitude positiva, não significa que passemos  a ver a vida em cor de rosa de um momento para o outro, mas sim que decidimos em consciência, valorizar todas as pequenas (que acabam por ser grandes) coisas ou momentos que passam pelas nossas vidas. São essas pequenas coisas que fazem a diferença entre ser ou não feliz!

3 de março de 2017

PALEO...O que é isso?

Quando me falaram na alimentação paleo e nos reflexos que esse tipo de alimentação poderia ter na minha qualidade de vida, reagi da mesma forma que a maioria das pessoas reage perante o desconhecido: "Paleo? Quem consegue viver com tamanha restrição alimentar? Como é possível viver sem pão ou cereais, ou sem tudo aquilo a que nos habituámos a comer?"

Primeiro reagi com cepticismo porque na minha cabeça, já estava tão limitada na minha saúde e qualidade de vida, que inibir-me conscientemente de comer aquilo que (julgava eu) me trazia algum conforto, ainda me iria deixar mais triste e reprimida. Mas infelizmente (ou felizmente, vejo isso agora), as dores contínuas e persistentes 24h/dia, o mau-estar constante, as noites repetidamente mal dormidas e as manhãs pontuadas de rigidez muscular e articular, levaram a que começasse a ler mais sobre isto. A vida que eu levava nos últimos meses, e o vislumbre a longo prazo do que seria a minha vida dali para a frente, se não fizesse nada, levaram-me a querer saber mais e a pesquisar sobre os benefícios deste tipo de alimentação. Porque não tentar? Que teria a perder? Só poderia ganhar com uma alimentação mais limpa, certo?


NO QUE CONSISTE A PALEO?


A ideia base da dieta paleo inspira-se na alimentação através da qual a espécie humana evoluiu pela maior parte da sua história até ao surgimento da agricultura. A nossa genética estará completamente adaptada a este tipo de alimentação e não ao tipo de alimentação mais recente. Depois do surgimento da agricultura, a nossa saúde mudou drasticamente com a introdução dos grãos e leguminosas na alimentação diária. Como se isso não bastasse, óleos vegetais, xaropes de frutose, conservantes, estabilizantes, corantes e substâncias similares, tornaram as pessoas mais gordas, mais diabéticas, mais doentes. Hoje sabemos que as doenças estão fortemente ligadas ao  nosso estilo de alimentação e vida "modernas".

Assim sendo, que tipo de alimentação adoptar, para que possamos eventualmente regenerar o nosso organismo? Em que consiste efectivamente a alimentação paleo?

  • Carnes de animais preferencialmente alimentados a pasto
  • Peixes e frutos do mar
  • Ovos, preferencialmente de galinhas de campo
  • Vegetais e hortaliças - todos os vegetais e verduras são permitidos, quanto mais verdes, melhor, mas é preciso ter algum cuidado no consumo de batata (dar preferência à batata doce), beterraba e abóbora, já que possuem um baixo valor nutricional em comparação com a quantidade de amidos
  • Frutas frescas
  • Frutos secos
  • Sementes
  • Gorduras de boas proveniências, tais como azeite, banha, óleo de côco, etc.
Não devemos esquecer a hidratação diária através de água ou chás sem açúcar.

O que NÃO se deve consumir:
  • Alimentos processados 
  • Açúcar refinado
  • Cereais 
  • Leguminosas (sim, amendoim incluido)
  • Óleos vegetais refinados
  • Junk/fast food
  • Produtos lácteos (se bem que algumas vertentes defendam o consumo de lacticínios tais como queijo, iogurte grego ou nata, privilegiando a sua gordura natural)
Posto isto, e para quem só agora tem contacto com este tipo de alimentação, pensa que é uma alimentação altamente redutora e limitada e que rapidamente leva a rotina e saturação. Errado! Depois de começar, apercebemo-nos que, com o tempo o nosso corpo (e seus vícios) vai mudando e vamos necessitando de fazer menos refeições por dia, pois só se come quando há fome, e não de 3 em 3 horas como sempre fomos levados a acreditar. E aí sim, sentimos uma liberdade tremenda e apercebemo-nos que não fomos feitos para viver para comer, mas sim de comer para viver.

COMO COMEÇAR?


Depende de cada um. Depende de como encaramos esta mudança de vida. Depende dos objectivos a que nos propomos.

No meu caso, e porque fui numa de "deixa-cá-ver-no-que-isto-vai-dar", não estabeleci nenhum dia específico para começar. Sempre gostei de legumes, frutas, carne e peixe por isso não foi difícil. Comecei por privilegiar esse tipo de alimentos mais naturais e acabei de consumir os produtos menos bons e nada aconselhados que tinha em casa. Sim, a vida custa a todos, e deitar comida fora, vai contra os meus princípios. Assim, fui fazendo uma mudança gradual, deixando de comprar aquilo que não devia e aumentando o consumo de alimentos mais simples e limpos.

Os pequenos-almoços passaram a ser de ovos, carne, legumes, verduras, fruta, coisa que até então eu considerava impensável, pois o meu pãozinho da manhã e o leite com café fizeram parte de todas a manhãs da minha vida até então. Asseguro que não custou nada, pois verifiquei que ficava sem fome e que me aguentava muito mais tempo sem comer, ao contrário do que acontecia anteriormente.

Inicialmente e até há bem pouco tempo, consumi também lacticínios através de queijos mais curados, natas ou iogurte com gordura na sua forma mais natural. Por decisão própria, deixei os lacticínios há pouco tempo e após passado o período de "desmame", considero que foi uma decisão acertada.

RESULTADOS VERSUS EXPECTATIVA

As minhas expectativas não eram muito altas pois, se por um lado eu queria mesmo sentir-me melhor, por outro e com tudo o que a indústria farmacêutica nos leva a acreditar, pensava que pouco ou nada iria alterar o meu estado clínico.

Errado mais uma vez! Apesar de sempre me ter recusado a tomar a suposta medicação adequada e recomendada para a minha patologia, sempre me recusei a tomar as drogas mais pesadas. Anti-depressivos e relaxantes musculares só fizeram parte da minha vida durante 3 semanas (logo após o diagnóstico) e chegou bem para perceber que a solução do meu problema não passava por recorrer a esse tipo de medicação. Mas assumo que tomava todos os dias um analgésico mais forte pois sem ele, eu não era funcional. E mesmo assim, tinha dias em que não conseguia tomar duche sozinha, ou pentear-me ou levar o garfo à boca.

Assim, ao fim de cerca de 2 semanas, acordei um dia mais bem disposta. Com menor rigidez articular pela manhã que os fibromiálgicos tão bem conhecem e demorei muito menos tempo a estar "operacional". Até então, desde que acordava, até poder sentir-me gente, podaria demorar até cerca de 2 horas. Nesse dia, não senti necessidade de tomar o analgésico porque o desconforto ainda era "suportável". O dia foi passando e acabei por não tomar nada. No dia seguinte, a mesma sensação de alívio, e no dia seguinte, e no dia seguinte...e assim continuou. Não voltei a tomar a medicação do costume. Não sabia de onde vinham as melhoras e estava sempre à espera de recair, pois era assim a rotina a que estava habituada.

Mas com o tempo, a fadiga constante começou a desanuviar, aquela sensação de peso nos ombros e cervical que tão bem conhecemos, começou a atenuar, aquela sensação de queimado constante na pele começou a ser cada vez mais suportável e as dores e rigidez começaram lentamente a desaparecer. Dei conta que as noites passaram a ser muito mais calmas e com sonos mais tranquilos. Logicamente que a minha energia voltou e finalmente via uma luz ao fundo do túnel e era possível ter uma vida "normal", ou o mais normal possível.

Iniciei há cerca de 1 ano e assumo que foi um renascer das cinzas. Não se pense que curei, mas sinto que a minha vida tem outra cor. A cor duma vida mais liberta, sem dores, sem cansaço constante e sem as frustrações que daí advêm. Não que me preocupasse com a opinião dos outros ou de como os outros me viam, mas sim das frustração própria que advém da perspectiva duma vida confinada a dor e sofrimento.

Sim, volta e meia tenho crises, mas são perfeitamente suportáveis sem recorrer a qualquer tipo de medicação mais pesada. Quando estou mais cansada ou com menos energia, abrando um pouco o ritmo, recorro à minha meditação e exercícios respiratórios e tudo volta aos eixos.

Que fique claro que não pretendo converter ninguém a este tipo de alimentação, nem tão pouco dar explicações técnicas ou científicas, pois tenho perfeita noção dos meus limites e de certeza que encontram informação bem mais específica disponível. Pretendo tão-só partilhar a minha experiência e como ela se repercutiu na minha saúde e rotina diária.

Para os mais cépticos e que acreditam que nada vai mudar nas suas vidas e que não passam sem a sua medicação de estimação, só posso recomendar que tentem, que saiam da vossa zona de conforto, que sejam mais pro-activos na vossa saúde e mas que sobretudo assumam as consequências das vossas decisões.