3 de novembro de 2022

Fadiga emocional

As incertezas e tensões dos últimos tempos causaram uma multiplicidade de perturbações nas nossas vidas. A experiência de tantas emoções fortes deixou-nos completamente exaustos. Um dia, tudo está bem. Estamos optimistas, acordamos sem dores, confiantes e motivadas. Sentimo-nos activos, estamos de bom humor e tudo parece encaixar-se. Mas no dia seguinte, as dores voltam sem razão aparente e, apetece-nos enrolar numa bola, a chorar por nós e pelo mundo. Tudo parece pesado, sem sentido. A sensação de opressão causada pelas incertezas que nos rodeiam, juntando as dores crónicas e as consequências que daí advêm, provocam uma sensação de desconforto que é difícil explicar.

A nossa vida emocional é uma montanha-russa constante, sempre em movimento. A vida que imaginámos como um rio longo e tranquilo, transforma-se por momentos num oceano em fúria. Este estado de emoções ambivalentes em que a pessoa se sente psicologicamente exausta, é a chamada “fadiga (ou cansaço) emocional”.

Sentir algum stress diário e ansiedade é normal, mas com o tempo, o stress crónico pode ter um impacto sobre o corpo. A fadiga emocional é causada por um longo período de stress de vida constante, seja de stress pessoal em casa ou de stress relacionado com o trabalho.

O que desencadeia a exaustão emocional difere de pessoa para pessoa. O que pode ser stressante para uma pessoa pode ser completamente controlável para outra pessoa:

  • empregos de alta pressão
  • escolaridade intensa
  • a trabalhar longas horas ou a trabalhar num emprego que odeia
  • ter um bebé
  • stress financeiro ou pobreza
  • sem-abrigo
  • ser um cuidador de um ente querido
  • processo de divórcio prolongado
  • morte de um membro da família ou amigo
  • viver com uma doença ou lesão crónica

Passamos tanto tempo e energia a viver situações de crise, que atingimos um estado stressante em que já não temos forças de reserva. “Fingir” que estamos bem , seja para não termos que dar mais explicações, seja para não afectar aqueles que nos rodeiam e nos amam, leva a que, a pouco e pouco, vivamos de forma mecânica. Já não sentimos nada, é como se o fio que nos ligava ao mundo e aos outros, se tivesse cortado. Nada faz sentido e questionamo-nos se viver “é isto?”.

Este cansaço é. Não é físico ou relacionado com a falta de sono (embora em tempos de agitação emocional, o sono possa ser afectado), mas manifesta-se de formas diferentes:

  • falta de motivação
  • perturbações do sono
  • irritabilidade
  • fadiga física
  • absentismo
  • apatia
  • dores de cabeça
  • alteração do apetite
  • nervosismo
  • dificuldade de concentração
  • raiva irracional
  • aumento do cinismo ou do pessimismo
  • sensação de pavor
  • depressão

                              O facto do nosso cérebro estar constantemente ocupado com pensamentos que entram e saem, pode levar a uma desconexão total, de tal forma que sentimos que a cabeça e o corpo já não conseguem funcionar juntos. Tudo requer esforço e uma das estratégias naturais para conseguir fazer face, é bloquear as emoções. Achamos que, se não sentirmos, não nos afecta.

                              Para poder dar a volta à situação, é necessário tomar medidas. Mas é mais fácil falar do que agir. Quando nos sentimos assoberbados com pensamentos pesados, não é fácil reagir. A recuperação começa sempre por reconhecer a condição em que nos encontramos, aceitar que não estamos bem. Negar ou minimizar a situação, só nos vai prejudicar. Verbalizar o que o faz pesar, não para esmagar ainda mais, mas para começar a libertar as emoções. De nada adianta fingir que está tudo bem. Se alguém perguntar como está, não negue, e dependendo de quem tem  à sua frente, fale abertamente do que sente. Não temos de contar tudo a todos à nossa volta, mas encontrar um ouvido simpático no nosso círculo próximo que nos ouvirá sem julgar.

                              Se falar se torna por vezes um pouco difícil, outra solução passa por escrever. Escrever sobre o que lhe pesa, o que lhe causa preocupação, o que o prejudica, mas também sobre o que lhe dá prazer e lhe provoca um sorriso mesmo estando só. Este exercício mais pessoal permite frequentemente ir mais fundo, porque não nos censuramos a nós próprios. Mesmo que tenha amigos sinceros com quem falar, pode sentir-se embaraçado ou desconfortável ao aborrecê-los com as suas preocupações. Ao escrever e exteriorizar o que está a sentir, será capaz de identificar o verdadeiro cerne do problema.

                              Em princípio, ao analisar melhor o que está a acontecer (ou já aconteceu), será capaz de resolver as coisas. Nada é preto e branco. Aprenderá com o que aconteceu. O caminho é difícil, talvez, mas este grande desconforto também lhe revelará o que é realmente importante. Esta tempestade emocional terá exposto desconfortos que o empurrarão de novo para a acção. Alguns terão de aprender a perdoar-se a si próprios, outros terão de reparar uma acção anterior e outros ainda, terão de abrir a discussão com os entes queridos envolvidos. É possível que se sigam alguns exames de consciência e provavelmente até algumas mudanças. Não se apresse a nada, mas mantenha uma mente aberta sobre as possibilidades.

                              Naturalmente, isto exigirá também que se trate com amabilidade e que se dê tempo para se divertir. É importante traçar um plano de actividades onde se coloca, por uma
                              vez, em primeiro lugar. Reserve tempo todos os dias para recarregar as suas baterias e faça disso o seu dever. No início pode não se sentir à vontade para as fazer, mas lentamente verá os efeitos positivos. Construir para continuar.

                              Lembre-se de ser paciente consigo mesmo e de perdoar também. Ao longo dos seus esforços para melhorar, poderá ser útil recorrer a um profissional (terapeuta, psicólogo, médico, etc.) para o ajudar a ultrapassar esta situação. E não se sinta culpado por não o poder fazer sozinho. Só porque acredita que os outros têm mais problemas, ou que há pessoas que estão a passar por coisas piores, não significa que os seus não existam ou não sejam válidos.

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