2 de outubro de 2022

Tempo

Há mais de 4 anos que eu não escrevo nada neste blog.

Muitas coisas aconteceram desde então, umas boas, outras nem por isso.

O bichinho da escrita volta e meia aparecia à superfície, mas a vida e as rotinas foram tomando o seu espaço e o blog foi ficando para trás. Até hoje...

Mas vamos contextualizar:

Estava desempregada e tinha tempo para me dedicar de corpo e alma ao blog e ao prazer que a escrita e a pesquisa me davam. Estar parada, para quem tem uma doença crónica, é abrir portas aos pensamentos mais escuros e mais pesados que se vão instalando sem nos darmos conta. Decidi então fazer uma formação específica na minha área. Sou secretária e fiz uma formação de secretariado jurídico. Fiz um estágio numa das maiores multinacionais no país e acabei por ficar. Já lá vão quase 4 anos.

Têm sido 4 anos intensos mas muito satisfatórios pois sinto-me realizada com o que faço, com as condições de que disponho, mas sobretudo com a minha equipa directa de trabalho, pois sabendo das minhas limitações, sempre tive total apoio e absoluta compreensão.

Paralelamente iniciei uma nova relação, que é tudo aquilo que eu sempre quis. Sempre me disseram (anteriores companheiros) que aquilo que eu idealizava numa relação, era utópico. Afinal não é, há quase 5 anos que estamos juntos e sentimos o mesmo amor e cumplicidade desde o primeiro dia.

Logo nas nossas conversas iniciais, coloquei os pontos nos "i's" em relação à fibromialgia e à síndrome de Sjögren e todas as contrariedades que vêm junto. Nunca se assustou e hoje posso dizer que me conhece muito bem, para não dizer....melhor do que eu mesma. Apercebe-se, mesmo até antes de mim, quando estou no limite e quando tenho que parar. Acho que acontece o mesmo que a todos os doentes crónicos: ignoramos a dor, achamos que, se pensarmos que não sentimos dor, que a dor vai embora. Só que não! Contrariada, sou "obrigada" a dar-lhe ouvidos e a parar uns minutos até arrebitar. Mas isso já todos sabemos.

Estas foram as partes boas. A parte menos boa começou em Dezembro 2020. Covid, pandemia e toda a gente em casa com mil cuidados para não ficarmos infectados sobretudo com receio de como o meu corpo reagiria a todos os problemas, se lhe juntasse uma infecção sobre a qual não se sabia nada. Na altura começava-se a falar de vacinas e as contra-indicações e disse tantas vezes que nunca me deixaria vacinar, que para ter os mesmos sintomas, mais valia ter o vírus e ficar imunizada. É! É nestas alturas que eu fazia bem em estar calada!

Os primeiros sintomas apareceram em Dezembro, os "normais" esperados, ou seja, perda total de olfacto e de paladar, cansaço e ao fim de alguns dias, um pouco de tosse. À parte a perda de olfacto e paladar, que já de si era bastante perturbador, os sintomas foram até bastante ligeiros. Ficamos todos infectados. Família unida é assim, pelo menos ficávamos todos despachados...pensava eu. Todos recuperaram ao fim de algumas semanas e eu, só piorava. O cansaço era devastador, absolutamente incapacitante. Durante um longo período, a minha única ocupação dos meus dias, era respirar. Não conseguia fazer nada sem ficar extenuada, nem o mais básico que era falar. Tive muitos momentos em que tinha que parar porque tinha de escolher entre falar ou respirar, as duas funções não eram compatíveis. Foram longos meses, sem perspectiva, sem respostas, sem esperança. Estive à beira da depressão, tive a sorte de ter um núcleo familiar de grande suporte e apoio psicológico que considero que foi essencial para eu conseguir sair do buraco negro e sem fundo no qual me encontrava.

Durante meses não vi qualquer melhoria, antes pelo contrário, os sintomas iam aparecendo uns atrás dos outros e eu não sabia como me livrar deles. As respostas médicas baseavam-se no "é uma doença nova, não sabemos ainda o que acarreta, tem de ter calma e aproveitar para descansar". O problema é que passaram semanas, meses e nada mudava. Não vou desenvolver muito este capítulo da minha vida, fica para outra altura. 3 doses de vacina e uma cura específicamente virada para doentes com Covid longo, fizeram com que recuperasse a vida que tinha antes do Covid.

A terceira grande razão para ter deixado o blog para trás, foi que em menos de um ano fizemos duas grandes mudanças de casa, com toda a logística que vem atrás, pois mudamos de um país para outro e por fim voltamos ao país anterior.

Olhando para trás, apercebo-me que aconteceu muita coisa em muito pouco tempo e se por um lado acho que poderia ter feito mais e melhor, por outro estou orgulhosa porque não me posso esquecer que tenho algumas limitações e que o tempo e disposição que tinha, não é o mesmo agora.

Custou-me bastante a aceitar esta nova vida mais como disse a minha psicóloga, o maior passo para a cura é fazer o luto da pessoa que fomos e aceitar a nova pessoa em que nos transformamos.

Isto tudo para dizer que finalmente estou em paz comigo mesma e com a pessoa que sou: uns dias cheia de energia e boa disposição, outros cheia de dores e limitações. E por essa razão voltei "às origens" e à vontade de escrever, pois verbalizar o que sinto, também faz parte do processo de recuperação. Escrevo essencialmente porque me faz bem, porque sentia saudades mas sobretudo porque me pediam para voltar à escrita. Assim sendo....I'm back!

1 comentário:

  1. Anónimo20/4/23

    Que bom que voltou. Senti falta. Bem vinda de volta

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