17 de julho de 2017

Ignorar é uma arte

"Certo dia, um homem aproximou-se de Buda e, sem sequer lhe dirigir a palavra, cuspiu-lhe na cara, provocando a ira dos seus discípulos. Ananda, o seu mais fervoroso discípulo, pediu a Buda:
- Permita-me dar a este homem o que ele merece!"
- Não, eu vou falar com ele!
E juntando as mãos, em sinal de respeito, disse ao homem:
- Obrigado. Com o seu gesto, pude verificar que a ira me abandonou. Sou-vos extremamente grato. O seu gesto mostrou-me igualmente que Ananda e os outros discípulos ainda se deixam levar pela ira. Muito obrigado.
O homem nem queria acreditar no que estava a acontecer e ficou incrédulo e comovido.

Esta parábola mostra-nos que o significado exacto da palavra "ignorar" muitas vezes tem um significado negativo e nos pode fazer sentir mal por ignorar o outro. "Ignorar" é simplesmente não permitir que as palavras, atitudes e comportamentos prejudiciais dos outros possam alterar o nosso equilíbrio interior. Não é necessário o uso de uma violência velada ou fazer o mal, basta criar uma camada protectora à nossa volta. É aprender a ignorar certas pessoas em certos momentos.  Ignorar não é uma forma de vingança ou uma maneira de incutir na outra um sentido menor, é apenas uma maneira de se proteger.


O que os outros pensam de nós, assim como as relações interpessoais, são uma grande fonte de satisfação e felicidade. Mas também podem ser motivo de insatisfação e descontentamento. Não nos deveria surpreender, uma vez que todos os fenómenos com os quais lidamos, têm geralmente duas faces, e geralmente são antagónicas. Só depende de nós, que lado nos deixamos que nos afecte.
Por isso, uma das chaves para a felicidade é aprender a ignorar o comportamento das palavras, atitudes e de muitas pessoas.

Aprender a ignorar é um processo que requer alguma prática o e uma profunda mudança de atitude. Embora possa parecer contra-intuitivo ignorar, na verdade, não é necessário para bloquear, mas sim o oposto: completamente aberto para o mundo. Uma técnica simples e muito poderosa é conseguir a "aceitação radical".

Esta técnica é parte da terapia comportamental dialéctica, desenvolvida pela psicóloga da Universidade de Washington Marsha Linehan, e centra-se na melhoria das competências de regulação emocional como a tolerância à ansiedade e atenção, encontrada nos fundamentos da filosofia budista.

Aceitação radical significa aceitar algo completamente sem julgar. Na prática, muitas coisas que os outros dizem, irrita-nos e desequilibra-nos porque não correspondem às nossas expectativas, porque de alguma forma nos recusamos a aceitar essas palavras, atitudes ou comportamentos. A negação é a chama que alimenta a frustração, ressentimento, ódio ou tristeza. Quando se pratica a aceitação radical, simplesmente assume-se que aconteceu, sem entrar em juízos de valor. Supondo uma distância psicológica, criamos um escudo à nossa volta que nos dá a oportunidade de responder às situações da melhor forma possível e sem nos deixar qualquer marca emocional.

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