3 de março de 2017

PALEO...O que é isso?

Quando me falaram na alimentação paleo e nos reflexos que esse tipo de alimentação poderia ter na minha qualidade de vida, reagi da mesma forma que a maioria das pessoas reage perante o desconhecido: "Paleo? Quem consegue viver com tamanha restrição alimentar? Como é possível viver sem pão ou cereais, ou sem tudo aquilo a que nos habituámos a comer?"

Primeiro reagi com cepticismo porque na minha cabeça, já estava tão limitada na minha saúde e qualidade de vida, que inibir-me conscientemente de comer aquilo que (julgava eu) me trazia algum conforto, ainda me iria deixar mais triste e reprimida. Mas infelizmente (ou felizmente, vejo isso agora), as dores contínuas e persistentes 24h/dia, o mau-estar constante, as noites repetidamente mal dormidas e as manhãs pontuadas de rigidez muscular e articular, levaram a que começasse a ler mais sobre isto. A vida que eu levava nos últimos meses, e o vislumbre a longo prazo do que seria a minha vida dali para a frente, se não fizesse nada, levaram-me a querer saber mais e a pesquisar sobre os benefícios deste tipo de alimentação. Porque não tentar? Que teria a perder? Só poderia ganhar com uma alimentação mais limpa, certo?


NO QUE CONSISTE A PALEO?


A ideia base da dieta paleo inspira-se na alimentação através da qual a espécie humana evoluiu pela maior parte da sua história até ao surgimento da agricultura. A nossa genética estará completamente adaptada a este tipo de alimentação e não ao tipo de alimentação mais recente. Depois do surgimento da agricultura, a nossa saúde mudou drasticamente com a introdução dos grãos e leguminosas na alimentação diária. Como se isso não bastasse, óleos vegetais, xaropes de frutose, conservantes, estabilizantes, corantes e substâncias similares, tornaram as pessoas mais gordas, mais diabéticas, mais doentes. Hoje sabemos que as doenças estão fortemente ligadas ao  nosso estilo de alimentação e vida "modernas".

Assim sendo, que tipo de alimentação adoptar, para que possamos eventualmente regenerar o nosso organismo? Em que consiste efectivamente a alimentação paleo?

  • Carnes de animais preferencialmente alimentados a pasto
  • Peixes e frutos do mar
  • Ovos, preferencialmente de galinhas de campo
  • Vegetais e hortaliças - todos os vegetais e verduras são permitidos, quanto mais verdes, melhor, mas é preciso ter algum cuidado no consumo de batata (dar preferência à batata doce), beterraba e abóbora, já que possuem um baixo valor nutricional em comparação com a quantidade de amidos
  • Frutas frescas
  • Frutos secos
  • Sementes
  • Gorduras de boas proveniências, tais como azeite, banha, óleo de côco, etc.
Não devemos esquecer a hidratação diária através de água ou chás sem açúcar.

O que NÃO se deve consumir:
  • Alimentos processados 
  • Açúcar refinado
  • Cereais 
  • Leguminosas (sim, amendoim incluido)
  • Óleos vegetais refinados
  • Junk/fast food
  • Produtos lácteos (se bem que algumas vertentes defendam o consumo de lacticínios tais como queijo, iogurte grego ou nata, privilegiando a sua gordura natural)
Posto isto, e para quem só agora tem contacto com este tipo de alimentação, pensa que é uma alimentação altamente redutora e limitada e que rapidamente leva a rotina e saturação. Errado! Depois de começar, apercebemo-nos que, com o tempo o nosso corpo (e seus vícios) vai mudando e vamos necessitando de fazer menos refeições por dia, pois só se come quando há fome, e não de 3 em 3 horas como sempre fomos levados a acreditar. E aí sim, sentimos uma liberdade tremenda e apercebemo-nos que não fomos feitos para viver para comer, mas sim de comer para viver.

COMO COMEÇAR?


Depende de cada um. Depende de como encaramos esta mudança de vida. Depende dos objectivos a que nos propomos.

No meu caso, e porque fui numa de "deixa-cá-ver-no-que-isto-vai-dar", não estabeleci nenhum dia específico para começar. Sempre gostei de legumes, frutas, carne e peixe por isso não foi difícil. Comecei por privilegiar esse tipo de alimentos mais naturais e acabei de consumir os produtos menos bons e nada aconselhados que tinha em casa. Sim, a vida custa a todos, e deitar comida fora, vai contra os meus princípios. Assim, fui fazendo uma mudança gradual, deixando de comprar aquilo que não devia e aumentando o consumo de alimentos mais simples e limpos.

Os pequenos-almoços passaram a ser de ovos, carne, legumes, verduras, fruta, coisa que até então eu considerava impensável, pois o meu pãozinho da manhã e o leite com café fizeram parte de todas a manhãs da minha vida até então. Asseguro que não custou nada, pois verifiquei que ficava sem fome e que me aguentava muito mais tempo sem comer, ao contrário do que acontecia anteriormente.

Inicialmente e até há bem pouco tempo, consumi também lacticínios através de queijos mais curados, natas ou iogurte com gordura na sua forma mais natural. Por decisão própria, deixei os lacticínios há pouco tempo e após passado o período de "desmame", considero que foi uma decisão acertada.

RESULTADOS VERSUS EXPECTATIVA

As minhas expectativas não eram muito altas pois, se por um lado eu queria mesmo sentir-me melhor, por outro e com tudo o que a indústria farmacêutica nos leva a acreditar, pensava que pouco ou nada iria alterar o meu estado clínico.

Errado mais uma vez! Apesar de sempre me ter recusado a tomar a suposta medicação adequada e recomendada para a minha patologia, sempre me recusei a tomar as drogas mais pesadas. Anti-depressivos e relaxantes musculares só fizeram parte da minha vida durante 3 semanas (logo após o diagnóstico) e chegou bem para perceber que a solução do meu problema não passava por recorrer a esse tipo de medicação. Mas assumo que tomava todos os dias um analgésico mais forte pois sem ele, eu não era funcional. E mesmo assim, tinha dias em que não conseguia tomar duche sozinha, ou pentear-me ou levar o garfo à boca.

Assim, ao fim de cerca de 2 semanas, acordei um dia mais bem disposta. Com menor rigidez articular pela manhã que os fibromiálgicos tão bem conhecem e demorei muito menos tempo a estar "operacional". Até então, desde que acordava, até poder sentir-me gente, podaria demorar até cerca de 2 horas. Nesse dia, não senti necessidade de tomar o analgésico porque o desconforto ainda era "suportável". O dia foi passando e acabei por não tomar nada. No dia seguinte, a mesma sensação de alívio, e no dia seguinte, e no dia seguinte...e assim continuou. Não voltei a tomar a medicação do costume. Não sabia de onde vinham as melhoras e estava sempre à espera de recair, pois era assim a rotina a que estava habituada.

Mas com o tempo, a fadiga constante começou a desanuviar, aquela sensação de peso nos ombros e cervical que tão bem conhecemos, começou a atenuar, aquela sensação de queimado constante na pele começou a ser cada vez mais suportável e as dores e rigidez começaram lentamente a desaparecer. Dei conta que as noites passaram a ser muito mais calmas e com sonos mais tranquilos. Logicamente que a minha energia voltou e finalmente via uma luz ao fundo do túnel e era possível ter uma vida "normal", ou o mais normal possível.

Iniciei há cerca de 1 ano e assumo que foi um renascer das cinzas. Não se pense que curei, mas sinto que a minha vida tem outra cor. A cor duma vida mais liberta, sem dores, sem cansaço constante e sem as frustrações que daí advêm. Não que me preocupasse com a opinião dos outros ou de como os outros me viam, mas sim das frustração própria que advém da perspectiva duma vida confinada a dor e sofrimento.

Sim, volta e meia tenho crises, mas são perfeitamente suportáveis sem recorrer a qualquer tipo de medicação mais pesada. Quando estou mais cansada ou com menos energia, abrando um pouco o ritmo, recorro à minha meditação e exercícios respiratórios e tudo volta aos eixos.

Que fique claro que não pretendo converter ninguém a este tipo de alimentação, nem tão pouco dar explicações técnicas ou científicas, pois tenho perfeita noção dos meus limites e de certeza que encontram informação bem mais específica disponível. Pretendo tão-só partilhar a minha experiência e como ela se repercutiu na minha saúde e rotina diária.

Para os mais cépticos e que acreditam que nada vai mudar nas suas vidas e que não passam sem a sua medicação de estimação, só posso recomendar que tentem, que saiam da vossa zona de conforto, que sejam mais pro-activos na vossa saúde e mas que sobretudo assumam as consequências das vossas decisões. 

31 comentários:

  1. Excelente,Cristina! Muito prático e motivador. Ainda bem que está bem melhor. Beijinhos

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  2. Revi-me em quase tudo o que escrever! Vou partilhar o seu texto. Obrigada pelo testemunho. 😘❤️

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Como a compreendo. Passei exatamente pelo mesmo e melhorei a minha qualidade de vida a 90%

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    1. Tão bom quando isso acontece. Fico muito feliz por si ❤

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  5. Sofro de sindrome de cansaço cronico pos-febre Q e revejo-me nas dores e nas horas de "aquecimento" matinal, no mau dormir, no ardor na cara... também eu consegui melhorar com a paleo auto-imune! :) Infelizmente voltei a introduzir comida nao biologica, cafe, chocolate, leguminosas, alguns lacticinios... e com o stress excessivo estou de volta a estaca zero passado um ano e meio. Já estou de novo na paleo auto-imune e continuo o meu yoga, a ver se daqui a uma semana ou duas já fico melhor!

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    1. Vai ver que com o tempo, vai voltar a recuperar a qualidade de vida perdida

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  6. Sofro de sindrome de cansaço cronico pos-febre Q e revejo-me nas dores e nas horas de "aquecimento" matinal, no mau dormir, no ardor na cara... também eu consegui melhorar com a paleo auto-imune! :) Infelizmente voltei a introduzir comida nao biologica, cafe, chocolate, leguminosas, alguns lacticinios... e com o stress excessivo estou de volta a estaca zero passado um ano e meio. Já estou de novo na paleo auto-imune e continuo o meu yoga, a ver se daqui a uma semana ou duas já fico melhor!

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  7. Obrigada!
    Vou partilhar lá no meu grupo.
    Testemunhos destes trazem mais vida à nossa vida. *)

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  8. Obrigada pelo teu testemunho Cristina Malheiro 😊. És um exemplo para mim desde que iniciei na Paleo, sempre com iguarias apresentadas com muita originalidade e requinte n7nca esquecendo o foco. ☺👍🌞

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  9. Anónimo5/3/17

    Verdade mesmo❤

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  10. Olá! Ainda estou numa fase muito inicial da dieta paleo.. tentar perceber o que é, e restringir algumas coisas menos boas que comia! Mas diga-me por favor, como são os seus pequenos almoços? O que me faz mais confusão é deixar o meu pão com manteiga e fiambre :) pela manhã.. Ajude-me! beijinho e força

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    1. Olá Ana e bem vinda.
      Se quiser ter mais informações quanto à alimentação paleo, terei todo o gosto em ajudar. Se quiser, peça adesão ao grupo de Facebook "Paleo New Age" onde terá todas as indicações para ter sucesso nessa sua/nossa caminhada. Também lá estou e fica mais fácil de ajudar.
      Obrigada e bem haja

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    2. Também comecei com esse problema...mas rapidamente percebi que não era um problema real. Aproveito e como almoço e janto bem de manhã não tenho fome. E apenas bebo água. Claro qUE ISto ao fim de várias semanas a fazer Paleo.entretanto pode comer ovos mechidos com espargos ou com tomate ou com outras coisas. As vezes gosto só com azeite e orégãoS. Se não estiver a tentar perder peso pose comer frutas de manhã. Para quem quiser perder peso não aconselho nos primeiros tempos.mas 90 por cento dos meus pequenos almoçoS são água e café. Noutra versão mais trabalhosa da coisa é se não estiver a tentar perder peso há mil e uma receitas de pão e panquecas e crepes que não usam trigo nem centeio nem açúcares.

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  11. Anónimo6/3/17

    Saúdo a sua resiliência!
    Aproveito para partilhar este artigo sobre os benefícios do yoga.

    https://www.sciencedaily.com/releases/2010/10/101014083119.htm

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  12. Também sofro de Fibro, e também iniciei o estilo Paleo como um aliado contra a doença, espero que comigo corra tão bem como consigo.

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    1. Olá Paula :)
      Vai correr de certeza, com perseverança, também vai sentir melhoras.
      Bjs

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  13. Beliza22/3/17

    Desculpe a pergunta, não quero ofender, mas tem profissão de índole intelectual? Eu não consigo por o cérebro a funcionar sem hidratos de carbono. Pior eu com falta de hidratos de carbono fico com vontade de " esganar" o primeiro que apareça, embora as minhas mãos não o permitam.��

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    1. Olá Beliza e bem vinda :)

      A alimentação que eu pratico também tem hidratos de carbono, mas dos bons. Os legumes, frutas e tubérculos têm todos hidratos de carbono. Deixei foi de consumir os hidratos potencialmente inflamatórios, como o gluten, e cereais em geral. Mas se quiser perceber melhor a alimentação paleo, pode seguir a página de facebook com o mesmo nome ou o grupo de facebook Paleo New Age, onde poderá seguir as refeições de pessoas com este tipo de alimentação e ajudar a desfazer as suas dúvidas. Terei todo o gosto em tê-la lá :)
      Se tiver nais dúvidas, disponha ;)

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  14. Como gosto de ouvir uma pessoa combativa e que toma as rédeas da sua vida! Revejo- me, como fibromiálgica nessa sua forma activa de agarrar na Vida com vontade de ser autora de bons momentos de "luta" e desafio!
    Parabéns por isso!

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    1. Muito obrigada, Eugénia. Temos de ser mesmo assim. Beijo grande e mta força p si 😋❤

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  15. Olá Cristina,

    acabei de receber o diagnóstico de fibromialgia e a receita de Lyrica...tenho 41 anos e não gostaria de me enxer de químicos! Quando fala da sua recusa em tomar alguma medicação, inclui esta? Gostaria de perceber o que estou a tomar antes de o começar a fazer...Vou também aliar mudanças alimentares e, claro, encarar isto como só mais um desafio que a vida me colocou! Bem haja pelo blog!

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    1. Olá Su :) sim, eu tb comecei com Lyrica e Cymbalta, mas não era para mim. Alem de não me aliviar em nada, ainda tinha que gerir os efeitos secundários das drogas. Tomei durante mto tempo só o tramadol, mas até isso deixei 2 emanas depois de ter iniciado paleo :) força para si, vai ver que também consegue <3

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    2. Obrigada! A Lýrica está a aliviar as dores, pelo mesno para já. Entretanto irei fazer Pilates (vou experimentar) e mudar algumas coisas na alimentação e depois disso discutir com o médico a possibilidade de deixar a medicação. Acredito que irei conseguir! e o blog vai ajudar nas receitas :) Obrigada!!!

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  16. Obrigado por expor sua experiência com a nova alimentação. Sofro com a fibromialgia a 15 anos. Adquirir através de uma vida stressa te em todos os sentidos, a 5 anos resolvi procurar ajuda (meficos, fisioterapeutas, psicólogos, psiquiatras, neurologistas, gastrologista). Pois de tanta medicação pesada adquirir úlcera gástrica e síndrome do intestino irritado. Através da alimentação vi realmente uma mudança física a minha médica resolveu tirar toda alimentação irritante...ou seja industrializada.Passei a fazer a dieta paleo e minha vida realmente mudou radicalmente.Unica proteína permitida era ovos, peixes ou aves. Carboidratos apenas milho,mandioca, arroz ( alimentos sem glúten). Derivados de leite foram proibidos. Em 6 meses de tratamento a energia voltou, as funções do corpo voltou a normalidade ( adeus intestino irritado, adeus hipertiroidismo). Hoje só faço uso da medicação antidepressivo pois meu organismo depois de tantos anos sofrendo com o excesso de cortisol não produz seretonina na quantidade que preciso. Hoje até cogito uma gravidez...algo impensável a alguns anos. Deixo aqui também minha experiência...a mudança alimenta muda nossa vida.Hoje vejo a vida colorida e com muitos projetos para o futuro. Beijinho a todos(as).

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    1. Grata pelo seu testemunho :) Costumo diizer que para se mudar de alimentação, é preciso primeiro bater no fundo do poço. So assim se torna possivel. Ainda bem que tb recuperou qualidade de vida. E uma sensação indescritivel n acordar com dores ou exausta. Muita força para si <3

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