9 de maio de 2017

Protocolo Paleo Auto-imune...porquê?

Fui diagnosticada com Fibromialgia em 2015. Foi um misto de alívio, de surpresa e ao mesmo tempo de desencanto.  Alívio porque finalmente podia dar um nome, um "rosto" a todos os sintomas que sentia (aqui)(aqui) e (aqui), de surpresa porque nunca pensei ter uma doença crónica (achava que o que sentia teria solução, não sabia bem como, mas pronto) e de desencanto por ter consciência do que aquilo que sentia, seria para o resto da minha vida, todos os dias...

Passei por aquela fase em que se pensa que, tomando as drogas recomendadas, que seria possível controlar a coisa, só que não foi bem assim. Ao fim de 2 semanas de Cymbalta e 2 noites de Lyrica, desisti porque além de não me aliviar em nada, ainda tinha que gerir os sintomas provocados pelas drogas. Isto de andar de óculos de sol em casa e com tampões nos ouvidos, não me parecia de todo normal. Mantive no entanto o analgésico à base de tramadol, que tomava todos os dias e em crise, 2 ou 3.

Entretanto falaram-me da alimentação paleo (aqui) e se inicialmente me mostrei muitíssimo renitente, quando me senti chegar ao fundo do poço, resolvi tentar só mesmo naquela de "ah e tal, não tenho nada a perder!" A verdade é que ao fim de cerca de duas semanas, acordei sem dores e a partir dali a minha qualidade de vida mudou drasticamente para melhor.

Pelo meio começaram a intensificar-se as securas da boca e dos olhos. A primeira coisa que tinha que fazer assim que abria os olhos, e ainda hoje é assim, era ir lavar logo a cara e sobretudo os olhos com água fria porque a sensação é de ácido nos olhos. Intensificou-se também a sensibilidade à luz e comecei a sentir a pele em todo o corpo a secar intensamente, mesmo continuando a beber água e a usar cremes hidratantes. Veio então a confirmação de diagnóstico de Síndroma de Sjogren. Nunca tinha ouvido falar mas depois de pesquisar, percebi que era uma doença auto-imune e bastante frequente de acontecer em paralelo com a Fibro. Ora já não bastava a primeira, e chega uma segunda...!



Com a paleo os sintomas estavam controlados. Tinha dores volta e meia e as crises eram perfeitamente toleráveis, caracterizando-se principalmente pela fadiga mais presente, mas consegui sempre passar "entre as gostas da chuva" e não ser necessário recorrer à medicação.


Cerca de 2 meses depois de ter iniciado paleo, e depois de ter lido sobre do que se tratava, fiz um Whole 30 (ver aqui), do qual não tirei conclusão nenhuma, pois na reintrodução dos alimentos, não consegui perceber quais os que provocavam alterações no meu organismo. Percebi aí que o meu corpo é meu e não funciona como os outros. Apesar da moderadora do grupo praticar e recomendar paleo low-carb indo mesmo até uma cetogénica para toda a gente, como se fosse a 8ª maravilha, a verdade é que entrando em cetose, o meu corpo reagiu de forma violenta (aumento intenso da sintomatologia da Sjogren) que só melhorou quando passei a ingerir mais fruta e raízes. Pelo meio também, iniciei os jejuns naturais e nunca forçados. A maior parte das pessoas sente logo falta de apetite ao fim de poucos dias, mas aqui euzinha não, acordo quase sempre com fome de gente. Nos dias em que acordava sem fome (poucos) aproveitava e fazia jejum. E quando o fazia, sentia-me bem, até sentia mais acuidade a nível mental e física.


Mas há cerca de uns 3 ou 4 meses (perco noção do tempo), os sintomas da Sjogren intensificaram-se, comecei a sentir uma secura extremamente intensa na boca e olhos e até na vagina. A secura na boca era tão intensa que de um momento para o outro, sentia a boca secar até à faringe, impedindo-me até de falar. E não, não era falta de água. Bebo regularmente 1l/1.5l de água por dia, porque gosto e porque me sabe bem, mas não posso beber muito mais, devido ao problema da secura das mucosas. Quanto mais água bebo, mais urino e mais atrito sinto na mucosa vaginal depois das idas ao wc.

Nessa altura retirei os lacticínios e os primeiros dias foram de ressaca absoluta. Nem eu fazia ideia de quão intoxicada eu estava. Tinha constantemente fome e nada me satisfazia, mas ao fim do 3º ou º dia, a coisa acalmou. E acalmaram também as securas e finalmente conseguia dormir normalmente e os dias decorriam também sem grandes alterações.

Ao fim de algum tempo (1 ou 2 meses depois) e depois de ter feito jejum 3 dias seguidos (jejuns naturais e sem esforço), percebi que qualquer coisa estava errada. Acordei inchadíssima (rosto e corpo), a dores tinham voltado numa intensidade absurda (como nos velhos tempos) e a fadiga extrema tinha-se instalado. Não conseguia perceber o que se estava a passar porque ainda por cima, tinha engordado 3kgs...com jejum! 

Como não sou de me dar por derrotada, decidi pesquisar e só aí percebi que auto-imune e jejum não funcionam. Já tinha lido artigos sobre o protocolo para auto-imunes mas quando chegava à parte de não comer ovos, nem frutos secos, ou tomate, deixava de ler, lol. Depois também percebi que auto-imunes também não combinam com low-carb. Mas só percebi isso depois de ter lido os artigos até ao fim.

Comecei a ler mais e a perceber que tinha que fazer alguma coisa. Sempre disse que um dia, se visse necessidade disso, que recorreria ao protocolo para auto-imunes (ler aqui). Mas é mais fácil dizer do que fazer. E a verdade é que me sentia tão mal, que decidi no momento iniciar o protocolo. Tanto que nem me lembro há quanto tempo comecei, mas nesta altura, penso que foi à cerca de 1 mês.

Se foi fácil? Nope...sobretudo aos pequenos-almoços. Nunca fui muito de panquecas e afins mas, no meio de tudo o que se deixa de consumir, do que sinto mais falta é dos ovos...os ovos!!! Que falta me faziam para fazer fosse o que fosse. E continuam a fazer. 

Não me arrependo nada de ter iniciado e o esforço tem sido largamente compensado. Ao fim de cerca de 1 semana, os "calores" nas costas desapareceram e deixei de acordar inchada. Posso dizer que neste momento, os sintomas regrediram todos. Perdi o peso que ganhei com o jejum, perdi mais volume ainda, a pele deixou de estar tão seca e sinto-me muito bem. Sempre tive muita dificuldade em perder peso, porque além destas duas amigas para a vida, também tenho hipotiroidismo. E a verdade é que estou a sentir-me "esvaziar", no bom sentido.

O protocolo pressupõe ter uma duração mínima de 3 ou 4 semanas ou até à regressão dos sintomas. E não é uma restrição para a vida. É como o Whole 30, depois de tudo estabilizado o melhor possível, procede-se à reintrodução regrada dos alimentos retirados (sempre dentro do contexto alimentar paleo) e aí percebermos quais os alimentos que nos são prejudiciais. Tinha lido que a maior parte das pessoas que aderem ao protocolo que não sentem necessidade de voltar ao que comiam antes e eu não percebia porquê, mas percebo agora. Medo! O medo de voltar a ter dores e mal-estar e tudituditudo. Tenho presente que quero reiniciar a reintrodução mas honestamente não sei quando, nem sinto pressa. 

Saliento de novo que não pretendo converter ninguém a fazer seja o que for, estou apenas a relatar o meu percurso e a explanar a razão que ME levou ao protocolo, e não, não foi por moda ou mania. Quis simplesmente ser pro-activa pela minha saúde e perceber o que posso melhorar para ter mais qualidade de vida. Há cerca de 1 ano que não faço qualquer medicação para as doenças que tenho e assim pretendo manter-me enquanto puder. 

Se custa não comer determinados alimentos? Claro que custa, sobretudo quando tenho uma não-paleo em casa, mas custa muito mais ter dores e não saber porque as tenho. Cada corpo é um corpo e o que resulta para uns, não resulta para outros. É preciso ler, estudar, ponderar e decidir o melhor possível. E isso ainda se torna mais essencial quando temos doenças crónicas e/ou auto-imunes. Mas mais uma vez ressalvo que, nem todas as auto-imunes reagem da mesma forma, assim como a mesma doença não se manifesta de forma igual em todos os indivíduos e isso só se aprende com o tempo, com a leitura e com o conhecimento gradual do nosso corpo.

"O futuro é construído pelas nossas decisões diárias, inconstantes e mutáveis, e cada evento influencia os outros" - Alvin Toffler

1 comentário:

  1. Entendo muito bem o seu comentário... demasiado bem, até! Eu sofro de fibromialgia e artrite reumatóide. Achei que uma excluia a outra, mas, segundo o reumatologista que me segue, são perfeitamente compatíveis. Abraço solidário!

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